quinta-feira, 20 de setembro de 2007

"Judite e Holofernes"




O que diferencia Caravaggio dos pintores Renascentistas? Para mim, cidadão comum do século XXI todo o Renascimento tem a mesma base..um retrato da perfeição cristã de tons bíblicos e metafóricos, mas que ainda assim, são reais do ponto de vista estético. Contudo, há uma certa diferença em Caravaggio..também trata temas bíblicos sim, mas de uma forma completamente diferente...usa jogos de contraste, associações do escuro ao espanto e não só à sombra...inventou a sua propria luz (luz caravaggiana), iluminando em tons dourados apenas as zonas para onde queria chamar a atenção..criando o barroco, corrente do faustoso e arrebatador, sendo um pintor da transição maneirista italiana. Caravaggio podia ter sido um excelente fotógrafo, é mestre na saturação, na luz e nos contrastes, mas não existindo ainda a máquina fotográfica, o seu cérebro reiinventou-a nas suas mãos que conseguiam na perfeição retratar o corpo humano, fossse este perfeito ou imperfeito..Consegue mostrar a podridão de certos capítulos bíblicos e choca qualquer espectador da sua obra com as pinceladas que dão cor à sombria realidade de um período que tinha sido glorioso.
Na minha opinião, as pinturas deste artista não deixam ninguém indiferente, seja sob que perspectiva for..mesmo aqueles que não apreciam arte do século XVI, tal como eu.

Um dos meus quadros favoritos é "Judite e Holofernes" (1598), exposto na Galeria de Arte Antiga em Roma. Retrata o episódio bíblico homónimo, que para quem nao sabe, passo a contar:

"Judite era princesa hebraica e o seu reino estava em guerra com os filisteus. O capitão filisteu, Holofernes, era conhecido não só pela coragem e crueldade, destreza e capacidade estratégica, como também pela sua atracção peo sexo feminino. A descriçao chegou aos ouvidos da inocente Judite, que encarregue do seu reino, tomou uma decisão..seduziria Holofernes e matá-lo-ia para salvar a sua pátria. Assim, tomando coragem, Judite atraiu Holofernes aos seus aposentos e com a ajuda de uma criada decapitou-o, salvando o reino e ganhando aos Filisteus, que, sem o seu bravo capitão, se retiraram do território."

No quadro, para além dos jogos de sombra e contraste, onde tudo emerge da penumbra, podemos observar a expressão corporal de cada uma das personagens, a realidade com que está representado cada milímetro do corpo. Judite guarda uma expressão de incredulidade, de "hmm deve ter doído, como fui fazer isto? tenho nojo de mim própria", onde a inocência deu lugar à coragem e ao alívio. Já a criada tem um ar cruel, avarento,segurando o saco para guardar a cabeça de Holofernes, ansiosa por saborear a vigança, de quem tanto tormento trouxe à vida dos Hebreus. Holofernes mostra-s impotente, humilhado durante o processo de sedução, soltando um último grito, agarrando-se fortemente aos lençóis, que começam a manchar-se do sangue vermelho vivo.

Caravaggio é uma delícia em relação aos seus contemporâneos, uma espécie de mestre.
A sua obra encontra-se espalhada pelo mundo, mas concentra-se principalmente em Itália e Paris.

P.S. A imagem que postei não mostra a realidade do quadro, está muito mais clara, a própria pintura é muito mais sombria e nítida.

1 comentário:

Avelelas disse...

Encontrei isto enquanto pesquisava sobre este magnifico ser, Caravaggio.

Acho que o post está excelente, e resumiste bem em poucas palavras o carácter das obras no geral.