quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Escolhas 2010: Filmes

Um Homem Singular


José e Pilar


Eu Sou o Amor


Mistérios de Lisboa

O Laço Branco

Estômago


O Escritor Fantasma


Yuki e Nina


Tudo Pode Dar Certo

Shutter Island

Alma Perdida


O Sítio das Coisas Selvagens

Vão-me Buscar Alecrim


Um Lugar Para Viver

Cela 211

Escolhas 2010: Álbuns


Beach House - Teen Dream


The National - High Violet


Crystal Castles - Crystal Castles II


Arcade Fire - The Suburbs


Joanna Newsom - Have One On Me


Kanye West - My Beautiful Dark Twisted Fantasy


Sufjan Stevens - The Age of Adz


The Drums - The Drums


MGMT - Congratulations


Caribou - Swim


LCD Soundsystem - This is Happening


M.I.A. - /\/\/\Y/\


Orelha Negra - Orelha Negra


Vampire Weekend - Contra


The Radio Dept - Clinging on a Scheme


Antony and the Johnsons - Swanlights


The Walkmen - Lisbon


Sia - We Are Born


Janelle Monae - The Archandroid


PAUS - É Uma Água (EP)


Clogs The Creatures in the Garden of Lady Walton


Hot Chip - One Life Stand

sábado, 25 de dezembro de 2010

Por Manhattan - The Best Chocolate Cake In The World



Nova Iorque é aquele tipo de cidade que muitas vezes não precisa ser descoberta. É pouco brilhante terminar a frase com "é ela que nos descobre", mas acabamos por ser tão absorvidos, que nos surpreendemos sem que nada se procure.
Foi numa noite de semana em que a vontade de ficar em casa não venceu a de aproveitar as últimas noites amenas do ano, que parti em busca de um qualquer café ou bar simpático que havia visto durante as tardes passadas em Spring e Prince Street. A vida nocturna do SoHo, principalmente durante a semana, ficou bastante afectada desde que o Meatpacking District se tornou no hot spot da nightlife de Manhattan. Não significa que curiosos estabelecimentos sejam passíveis de existência esquina sim esquina sim, mas na procura do local ideal é bem mais difícil se este não estiver bem assinalado com uma multidão na rua. Num inesperado momento, com grande parte da rua apagada, uma pequena montra de luz dourada sobressai no negro da cidade pós-laboral. Aproximo-me e o letreiro é bem explícito e convidativo: The Best Chocolate Cake In The World. Os mais atentos sabem que esta marca teve origem em Campo de Ourique e desde há alguns anos se tornou num marco lisboeta, juntando a irreverência ao profissionalismo dela derivado. Uma espécie de Mourinho dos bolos de chocolate, digamos assim. Na realidade a pastelaria teve tanto sucesso que foi fundado um pequeno franchising por algumas cidades mundiais, das quais Nova Iorque não foi excepção. Embora não partilhe totalmente da receita original (é mais consistente e talvez com menos merengue de chocolate), este pequeno estabelecimento transpirava Portugal por todas as aberturas. Desde a madeira com talha dourada em imitação de moldura aos candeeiros e tipografia típica, apenas as jovens empregadas americanas escapavam. Sabia da sua existência desde que li isto e projectei uma visita antes da viagem, que mais tarde acabaria por esquecer. A atracção pelo reduzido espaço e luz acolhedora, aliados ao imediato sorriso que o letreiro me arrancou fizeram-me sentir na obrigação de dizer que era português, inflamado por um qualquer orgulho patriótico que nunca se me conhecera. A empregada pediu desculpa pelo desconhecimento dessa estranha e difícil língua europeia e falámos em inglês. A hora de encerramento estava próxima e foram-me servidas pequenas sobras do último bolo em forma de cookies com um belo sumo natural de mirtilos. Lá fora, os transeuntes paravam e tal como eu antes, eram atraídos pelo reflexo dourado, sem contudo ter "coragem" para entrar. Afinal de contas, há que estar preparado para o que o nome propõe.

Voltaria mais vezes para lanchar, a conta servida num copo de madeira era promessa de uma próxima vez. A morada agradava-me, e estranhamente sentia-me em casa.

55A Spring Street
New York, NY 10012, United States

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PAUS - Lupiter Deacon



O projecto de Hélio Morais e Joaquim Albergaria lança hoje em exclusivo na Antena 3 o teledisco da música de É Uma Água. No site, o vídeo é acompanhado de uma declaração dos mesmos: esqueçam “todas as bandas onde tocam ou tocaram anteriormente o Joaquim Albergaria, o Hélio Morais, o Makoto Yagyu e o João Pereira. Esqueçam Vicious Five, Linda Martini, If Lucy Fell e Riding Pânico. Os PAUS cheiram a novo e a melhor maneira de perceber isso, é vê-los ao vivo ou ouvir o EP de estreia.”

sábado, 18 de dezembro de 2010

Mistérios de Lisboa é Filme do Ano em França



Como ja foi referido anteriormente nesta morada, Mistérios de Lisboa foi talvez uma das mais ambiciosas e sucedidas produções em cinema que se conhece da escassa história do ramo em Portugal. É com orgulho que é divulgada a sua distinção com o Prémio Louis Delluc, um dos mais importantes galardões anuais em França, a par dos Césares e da Palma de Ouro de Cannes. Realizado pelo chileno Raúl Ruiz e produzido por Paulo Branco, foi consagrado Melhor Filme do Ano num leque que abrangia obras como Ghost Writer de Roman Polanski ou Des Hommes et des Dieux de Xavier Beauvois. O júri integrou vinte críticos e personalidades do meio cinematográfico, tendo sido presidido por Gilles Jacob, também presidente do Festival de Cannes.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

sábado, 11 de dezembro de 2010

14 actors acting

Solve Sandsbro realiza 14 clips diferentes sob a tutela do The New York Times. Em que consistem? Pois o título é bem sintético "14 actors acting". Emoções diferentes para actores diferentes. Entre eles contam-se Tilda Swinton, Natalie Portman, James Franco, Matt Damon, Michael Douglas e e Jesse Eisenberg. As imagens dos diferentes sketches são acompanhadas por banda sonora de Owen Pallet.

Aqui fica um dos mais inspiradores, o de Javier Bardem:

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Fujiya & Miyagi - Sixteen Shades Of Black & Blue

O novo álbum dos britânicos Fujiya & Miyagi chega em Janeiro e tem o nome de Ventriloquizzin. Para além de um estimulante trailer, apresentam-nos um teledisco realizado por Bert & Bertie, com Philip Zimmerman como personagem.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Por Manhattan - Toy Tokio



O Lower East Side foi desde sempre considerado uma pequena Londres em Manhattan. Desde os edifícios típicos até à cultura punk, há todo um espectro melting pot que tanto nos lembra a capital britânica. Restaurantes renascem de casas de habitação, lojas vintage e de roupa usada aparecem em ruas de novos estilistas e as galerias de arte moderna tentam a cada semana complementar o recente New Museum of Modern Art na Bowery.

Em plena 2nd Avenue encontramos uma loja de brinquedos, ou melhor, mais do que isso. A Toy Tokio é não só uma loja, é também uma galeria de arte temática. No piso superior podemos satisfazer as nossas fantasias de criança e de adulto, isto é, encontrar brinquedos, acessórios, estátuas e muitos, muitos outros objectos de heróis e persongens da cultura animada ocidental e oriental: do Spiderman ao Doraemon, do Cartoon Network ao Dragon Ball, do Harry Potter à Sailormoon, do Tintim ao Family Guy, do Tim Burton ao Hayao Miyazaki, todos os animés e mais alguns, Disney e videojogos. Encontram-se ainda colecções de BD e cartoons políticos. Se é animado, está na Toy Tokio!
O piso inferior funciona como galeria de arte para exposições temáticas temporárias, que normalmente relacionam o imaginário da loja com conteúdos mais reflexivos.

Vale a pena, nem que seja só para ver, mas duvido que alguém não saia de lá com um belo saco de papelão e logo dourado.


Toy Tokyo Retail Store
91 2nd Ave NYC, NY 10003

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Festivais de Inverno aquecem o fim-de-semana

LISBOA


As salas mais emblemáticas (e outras improváveis como a estação de metro) da Avenida da Liberdade enchem-se durante dois dias com os nomes mais recentes da cultura indie, electrónica e pop/rock. Este ano conta a terceira edição e apresenta tanto propostas internacionais como nacionais. Para ver programação, consultar aqui


"Lisboa Mistura músicas, dança, vídeo, poesia: artistas contadores de estórias em formatos variados." É deste amor pela cidade que parte o evento no São Luiz, trazendo ao seu palco algumas das mais características propostas lusófonas em cada género. Para ver o programa completo, consultar aqui.

PORTO


Menos artistas que o Super Bock em Stock, mas com qualidade equiparável, sendo que alguns deles actuam em ambos festivais.

Lynch, do cinema para a música

Desde sempre nos apercebemos do gosto de David Lynch pela música...Vimo-lo trabalhar selectivamente em bandas sonoras dos seus filmes com (com óptimo resultado), colabor recentemente com o produtor Danger Mouse e com os Sparklehorse no álbum Dark Night of the Soul, convidar as Au Revoir Simone para uma das leituras de um dos seus livros e ainda criar uma animação para a música "Shot In The Back of The Head". O realizador David Lynch estreia-se agora com temas em nome próprio: "Good Day Today" e "I Know", um duplo A-side a ser lançado pela Sunday Best, uma editora independente do Reino Unido. Por enquanto é possível ouvi-las no YouTube, na página da editora ou adquiro-las no iTunes, sendo o álbum completo apenas lançado em 2011.

"Não sou músico, mas gosto de experimentar e tenciono fazer música", é assim que o criativo autor encara a sua experiência, referindo ainda que "A música compõe uma parte importante do cinema" e, por isso, jamais abandona a arte que tanto o caracteriza. Ao contrário do que seria de esperar, as músicas apresentadas são bem acessíveis ao público geral e não ambíguas e mentais como a sua obra cinematográfica, apesar da sua próxima relação e aparente complementaridade. Nelas identificamos a sua paixão pela electrónica minimalista e pelo universo do burlesco.

Para ouvir, clicar aqui e aqui

Lynch anuncia ainda um concurso para a realização de um teledisco para este duplo A-side:

Kanye West - Runaway

Kanye West edita o seu quinto álbum My Beautiful Dark Twisted Fantasy por altura do final do ano. Todos sabemos do seu egocentrismo e o lançamento por esta altura só vem confirmar que vai abanar consciências. Nunca se soube bem porquê, o hip hop e rap perderam, no final dos anos 90 e início dos 2000, a sua essência rudimentar e urbana, passando a ser objecto limitadoramente money maker (um dos propósitos contra os quais sempre se insurgiu) e desprovido na sua maior parte de conteúdo significante e artístico. Com este álbum, Kanye West é já falado como um Michael Jackson dos tempos modernos, não pela voz ou dança, mas pela maestria nos arranjos e produção, de tal forma que consegue agradar a diferentes tipos de ouvinte. Aqui fica um apetitoso teledisco (? ou curta-metragem) que presenteia com imagens o tema "Runaway". Afinal de contas são uns belos 34 minutos:

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Por Manhattan - High Line

O Meatpacking District é a nova zona da moda da Manhattan de 2010. O bairro surgiu de uma necessidade que os nova iorquinos têm de ocupar todo e qualquer espaço abandonado ou em desuso e transformá-lo em arte contemporânea. Assim, peagaram numa zona de Chelsea com grandes armazéns e fábricas de empacotamento da carne, assim como pequenos estaleiros e linhas de comboios transportadores de mercadoria e transformaram-nos em lojas de estilistas ainda desconhecidos lado a lado com grandes nomes e os nomes do hype, restaurantes retro e de design, ateliers de arte urbana e discotecas/bares das mais variadas e originais influências. Junto ao rio Hudson foi criado um espaço verde que dá cor ao castanho avermelhado dos armazéns.










Chama-se High Line e é possivelmente uma das propostas mais aliciantes de Manhattan para quem gosta de fundir a adrenalina da cidade com a presença natural. O "parque", se é que se pode chamar assim, foi criado nas linhas de caminho-de-ferro suspensas que ligavam os armazéns e fábricas e se deslocavam pelo West Side da ilha por forma a abastecer mercadoria. O conceito da associação que faz a manutenção do espaço (Friends of the High Line) é simples: "Keep It Wild". Para quem não está informado, a vegetação do High Line não é baseada em ávores mas sim em arbustos e e ervas de savana, completamente selvagens e que emanam um cheiro bastante forte e característico. Este "Keep It Wild" surge não só como aviso, mas também como forma de carácter, que faz sentir livres aqueles que se aprisionam no stress quotidiano e no ritmo alucinante da cidade. Ao longo do percurso férreo vemos bancos e esprigaçadeiras com rodas que assentam em cima da linha, miradouros para o rio, para a cidade, para a estrada(!) - este é sem dúvida o mais original -, uma instalação-museu fechada, jogos de luz, cor e ilusão de óptica, o Standard Hotel (maravilha arquitectónica e símbolo do voyeurismo que assenta no parque) e plantas exóticas.

A altura aconselhada para visita é precisamente o pôr-do-sol, em que os vidros espelhados dos hotéis e empresas reflectem luz para o castanho dos edifícios industriais do século XIX, criando-se um clima quente, acentuado pela flora da savana e New Jersey recortada no horizonte.

529 West 20th Street, Suite 8W
New York, NY

sábado, 27 de novembro de 2010

3 cinemas diferentes

José e Pilar



A surpresa de José e Pilar é principalmente a sua naturalidade. Quando vemos biografias ou retratos sociais post mortem de grandes personalidades habituamo-nos a que tudo esteja arranjado de forma a enaltecê-los como personagens intocáveis, sem erros e de certa forma, sublimes. A magia de Miguel Gonçalves Mendes é precisamente apresentar José Saramago e Pilar del Rio como duas pessoas, humanas como tantas outras. José, melancólico e irreverente, Pilar, uma tempestade andaluza. A película organiza-se em capítulos como um livro e acompanha os últimos anos do casal, focando-se no período em que o Nobel escreveu A Viagem do Elefante e foi atacado pela doença. Vemos o dia a dia e o trabalho incansável de Pilar, mas também vemos a figura carismática de Saramago e a sua vontade e amor pela vida sem temer a morte, sempre com ela a seu lado. Numa viagem que nos leva por Lanzarote, Madrid, Lisboa, México, Brasil ou Finlândia lembramo-nos do quão atribulada pode ser uma vida de eventos e promoções e também o pouco que a idade importa quando o espírito é o de um jovem criativo. Numa analogia lamechosamente correcta podemos dizer que a esposa era "o pilar" na vida do escritor, a mulher que pegou nas rédeas e o ajudou nos melhores e mais difíceis momentos da sua carreira. Vemos também a negligência por Portugal enquanto pátria à sua obra e o quão deprimente é ver um talento bem mais valorizado no exterior. Mas é bom ver que quem o amava, amava de verdade.
Pequenos clips idealizados por Mendes mostram-nos paisagens vulcânicas de Lanzarote, declarações de amor e metáforas visuais de tempo e espaço. Tudo isto é enriquecido por uma excelente e fresca banda sonora, em que artistas como Camané, Noiserv ou Adriana Calcanhoto provam que a lusofonia é de facto o bem mais rico da herança portuguesa.

O filme cumpre as promessas apresentadas no trailer promocional, sendo delicado e belo, muito bem humorado e com muitos momentos catárticos. Entre viagens, discursos, discussões e desabafos, carinhos e sarcasmos, surge-nos uma citação de importância maior semelhante a esta: "Se gostei da minha vida? Gostei tanto que a viveria de novo, mas toda ela". E a verdade é esta.

"Pilar, encontramo-nos noutro sítio"

A Rede Social



A expectativa sobre a nova película de David Fincher era tanta que qualquer medo de desilusão era normal. Não há razão para receios, pelo menos para quem espera um filme de violência psicológica passado na maior parte em volta de uma mesa. Não se esperem grandes acrobacias nem histórias de casos reais na internet, o objectivo do filme é explicar a origem e contexto da ideia do Facebook, quais os lucros que teve desde então e todo o processo judicial de direitos de autor e privacidade infrigidos por Mark Zuckerberg, o seu mentor. Qualquer espectador nutre desde a cena inicial do filme,em que o Zuckerberg debate com a namorada uma data de assuntos à velocidade da luz, uma antipatia e admiração simultânea por ele. À medida que avança, estes sentimentos vão-se imiscuindo num só, galopando pelo próprio evoluir do egoismo da personagem. Fincher consegue também fazer-nos penetrar no mundo dos estudantes de elite de Harvard, situação sobreposta mais tarde pelo mundo dos negócios de Nova Iorque ou L.A., advertindo-nos que por trás de coisas aparentemente simples como o Facebook, estão impensáveis transcções milionárias que movem o mundo e de certa forma controlam os impávidos utilizadores, dos quais se alimentam e aproveitam. O final do filme, como todos devem calcular, é uma "chapada de luva branca" na cara de todos os utilizadores do Facebook e do quão ridícula se pode ter tornado a dependência tecnológica no século XXI.

Mistérios de Lisboa



Não sou fã de Camilo Castelo Branco. Tanto romantismo deixa-me de certo modo aborrecido e deprimido, como se de apenas a paixão o ser humano dependesse, não existindo mais nenhum motivo pelo qual valha a pena viver. O chileno Raul Ruiz salva esta obra densa e gigantesca num longo filme e série, que tudo tem de português. Na verdade, a fita chega a ser tão perfeita que nos questionamos por que motivo não havia já sido feito algo assim em Portugal. Mistérios de Lisboa adopta como fio condutor principal a vida de João/Pedro da Silva (em adulto interpretado por Afonso Pimentel), abandonado em criança para um orfanato como fruto de intrigas familiares e amores proibidos. Quando descobre quem é a sua mãe, a condessa Ângela de Lima (Maria João Bastos), pede ao Padre Dinis (Adriano Luz) para conhecê-la e é a partir deste momento que o argumento entra em sucessiva renovação, apresentando-nos diversas personagens e a sua vida, assim como os seus segredos e intrigas complementares. O filme toma então a estrutura de um puzzle, que aparenta ficar completo à medida que os anos passam, embora com peças fulcrais sempre ausentes que apelam à intuição do espectador e que só perto do fim serão adicionadas. À boa moda de um folhetim, os pais já não pais, muitos não são quem dizem ser, há relações familiares descobertas até então desconhecidas, emigração, luta pelo poder, traição, etc. Mas, até agora tudo parece estar na linha descritiva de qualquer outro filme de época, o que tem então de diferente? Ruiz conduz a acção pela introdução/conclusão de capítulos com um pequeno teatro de bonecos de cartão (pertencente a Pedro da Silva, que o leva consigo para onde quer que vá), representando cuidadosamente momentos-chave no pequeno brinquedo. Há ainda técnicas inovadoras de jogos de sombras e luz, reflexos de espalho e distorções de imagem, há até uma cena em que o tecto do teatro é filmado através de uma placa de acrílico (simulação de mesa de vidro, ver imagem acima) para a qual é deitado um bilhete rasgado. Para adicionar ao rico elenco português com figuras como Albano Jerónimo, Maria João Bastos, Adriano Luz, Afonso Pimentel, Catarina Wallenstein ou Ricardo Pereira há duas estrelas francesas: Léa Seydoux e Melvil Poupaud. O francês é então uma língua que povoa em grande parte esta obra, intercalando-se com o português novecentista.

Como um retrato da sociedade do século XIX, Mistérios de Lisboa é sem dúvida uma das melhores e mais completas longas-metrages do ano. O Le Monde, The New York Times e muitos outros concordam. As quatro horas e meia valem a pena cada minuto.