terça-feira, 30 de novembro de 2010

Por Manhattan - High Line

O Meatpacking District é a nova zona da moda da Manhattan de 2010. O bairro surgiu de uma necessidade que os nova iorquinos têm de ocupar todo e qualquer espaço abandonado ou em desuso e transformá-lo em arte contemporânea. Assim, peagaram numa zona de Chelsea com grandes armazéns e fábricas de empacotamento da carne, assim como pequenos estaleiros e linhas de comboios transportadores de mercadoria e transformaram-nos em lojas de estilistas ainda desconhecidos lado a lado com grandes nomes e os nomes do hype, restaurantes retro e de design, ateliers de arte urbana e discotecas/bares das mais variadas e originais influências. Junto ao rio Hudson foi criado um espaço verde que dá cor ao castanho avermelhado dos armazéns.










Chama-se High Line e é possivelmente uma das propostas mais aliciantes de Manhattan para quem gosta de fundir a adrenalina da cidade com a presença natural. O "parque", se é que se pode chamar assim, foi criado nas linhas de caminho-de-ferro suspensas que ligavam os armazéns e fábricas e se deslocavam pelo West Side da ilha por forma a abastecer mercadoria. O conceito da associação que faz a manutenção do espaço (Friends of the High Line) é simples: "Keep It Wild". Para quem não está informado, a vegetação do High Line não é baseada em ávores mas sim em arbustos e e ervas de savana, completamente selvagens e que emanam um cheiro bastante forte e característico. Este "Keep It Wild" surge não só como aviso, mas também como forma de carácter, que faz sentir livres aqueles que se aprisionam no stress quotidiano e no ritmo alucinante da cidade. Ao longo do percurso férreo vemos bancos e esprigaçadeiras com rodas que assentam em cima da linha, miradouros para o rio, para a cidade, para a estrada(!) - este é sem dúvida o mais original -, uma instalação-museu fechada, jogos de luz, cor e ilusão de óptica, o Standard Hotel (maravilha arquitectónica e símbolo do voyeurismo que assenta no parque) e plantas exóticas.

A altura aconselhada para visita é precisamente o pôr-do-sol, em que os vidros espelhados dos hotéis e empresas reflectem luz para o castanho dos edifícios industriais do século XIX, criando-se um clima quente, acentuado pela flora da savana e New Jersey recortada no horizonte.

529 West 20th Street, Suite 8W
New York, NY

sábado, 27 de novembro de 2010

3 cinemas diferentes

José e Pilar



A surpresa de José e Pilar é principalmente a sua naturalidade. Quando vemos biografias ou retratos sociais post mortem de grandes personalidades habituamo-nos a que tudo esteja arranjado de forma a enaltecê-los como personagens intocáveis, sem erros e de certa forma, sublimes. A magia de Miguel Gonçalves Mendes é precisamente apresentar José Saramago e Pilar del Rio como duas pessoas, humanas como tantas outras. José, melancólico e irreverente, Pilar, uma tempestade andaluza. A película organiza-se em capítulos como um livro e acompanha os últimos anos do casal, focando-se no período em que o Nobel escreveu A Viagem do Elefante e foi atacado pela doença. Vemos o dia a dia e o trabalho incansável de Pilar, mas também vemos a figura carismática de Saramago e a sua vontade e amor pela vida sem temer a morte, sempre com ela a seu lado. Numa viagem que nos leva por Lanzarote, Madrid, Lisboa, México, Brasil ou Finlândia lembramo-nos do quão atribulada pode ser uma vida de eventos e promoções e também o pouco que a idade importa quando o espírito é o de um jovem criativo. Numa analogia lamechosamente correcta podemos dizer que a esposa era "o pilar" na vida do escritor, a mulher que pegou nas rédeas e o ajudou nos melhores e mais difíceis momentos da sua carreira. Vemos também a negligência por Portugal enquanto pátria à sua obra e o quão deprimente é ver um talento bem mais valorizado no exterior. Mas é bom ver que quem o amava, amava de verdade.
Pequenos clips idealizados por Mendes mostram-nos paisagens vulcânicas de Lanzarote, declarações de amor e metáforas visuais de tempo e espaço. Tudo isto é enriquecido por uma excelente e fresca banda sonora, em que artistas como Camané, Noiserv ou Adriana Calcanhoto provam que a lusofonia é de facto o bem mais rico da herança portuguesa.

O filme cumpre as promessas apresentadas no trailer promocional, sendo delicado e belo, muito bem humorado e com muitos momentos catárticos. Entre viagens, discursos, discussões e desabafos, carinhos e sarcasmos, surge-nos uma citação de importância maior semelhante a esta: "Se gostei da minha vida? Gostei tanto que a viveria de novo, mas toda ela". E a verdade é esta.

"Pilar, encontramo-nos noutro sítio"

A Rede Social



A expectativa sobre a nova película de David Fincher era tanta que qualquer medo de desilusão era normal. Não há razão para receios, pelo menos para quem espera um filme de violência psicológica passado na maior parte em volta de uma mesa. Não se esperem grandes acrobacias nem histórias de casos reais na internet, o objectivo do filme é explicar a origem e contexto da ideia do Facebook, quais os lucros que teve desde então e todo o processo judicial de direitos de autor e privacidade infrigidos por Mark Zuckerberg, o seu mentor. Qualquer espectador nutre desde a cena inicial do filme,em que o Zuckerberg debate com a namorada uma data de assuntos à velocidade da luz, uma antipatia e admiração simultânea por ele. À medida que avança, estes sentimentos vão-se imiscuindo num só, galopando pelo próprio evoluir do egoismo da personagem. Fincher consegue também fazer-nos penetrar no mundo dos estudantes de elite de Harvard, situação sobreposta mais tarde pelo mundo dos negócios de Nova Iorque ou L.A., advertindo-nos que por trás de coisas aparentemente simples como o Facebook, estão impensáveis transcções milionárias que movem o mundo e de certa forma controlam os impávidos utilizadores, dos quais se alimentam e aproveitam. O final do filme, como todos devem calcular, é uma "chapada de luva branca" na cara de todos os utilizadores do Facebook e do quão ridícula se pode ter tornado a dependência tecnológica no século XXI.

Mistérios de Lisboa



Não sou fã de Camilo Castelo Branco. Tanto romantismo deixa-me de certo modo aborrecido e deprimido, como se de apenas a paixão o ser humano dependesse, não existindo mais nenhum motivo pelo qual valha a pena viver. O chileno Raul Ruiz salva esta obra densa e gigantesca num longo filme e série, que tudo tem de português. Na verdade, a fita chega a ser tão perfeita que nos questionamos por que motivo não havia já sido feito algo assim em Portugal. Mistérios de Lisboa adopta como fio condutor principal a vida de João/Pedro da Silva (em adulto interpretado por Afonso Pimentel), abandonado em criança para um orfanato como fruto de intrigas familiares e amores proibidos. Quando descobre quem é a sua mãe, a condessa Ângela de Lima (Maria João Bastos), pede ao Padre Dinis (Adriano Luz) para conhecê-la e é a partir deste momento que o argumento entra em sucessiva renovação, apresentando-nos diversas personagens e a sua vida, assim como os seus segredos e intrigas complementares. O filme toma então a estrutura de um puzzle, que aparenta ficar completo à medida que os anos passam, embora com peças fulcrais sempre ausentes que apelam à intuição do espectador e que só perto do fim serão adicionadas. À boa moda de um folhetim, os pais já não pais, muitos não são quem dizem ser, há relações familiares descobertas até então desconhecidas, emigração, luta pelo poder, traição, etc. Mas, até agora tudo parece estar na linha descritiva de qualquer outro filme de época, o que tem então de diferente? Ruiz conduz a acção pela introdução/conclusão de capítulos com um pequeno teatro de bonecos de cartão (pertencente a Pedro da Silva, que o leva consigo para onde quer que vá), representando cuidadosamente momentos-chave no pequeno brinquedo. Há ainda técnicas inovadoras de jogos de sombras e luz, reflexos de espalho e distorções de imagem, há até uma cena em que o tecto do teatro é filmado através de uma placa de acrílico (simulação de mesa de vidro, ver imagem acima) para a qual é deitado um bilhete rasgado. Para adicionar ao rico elenco português com figuras como Albano Jerónimo, Maria João Bastos, Adriano Luz, Afonso Pimentel, Catarina Wallenstein ou Ricardo Pereira há duas estrelas francesas: Léa Seydoux e Melvil Poupaud. O francês é então uma língua que povoa em grande parte esta obra, intercalando-se com o português novecentista.

Como um retrato da sociedade do século XIX, Mistérios de Lisboa é sem dúvida uma das melhores e mais completas longas-metrages do ano. O Le Monde, The New York Times e muitos outros concordam. As quatro horas e meia valem a pena cada minuto.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Por Manhattan - Fiat Café

Inicio hoje uma pequena colecção de restaurantes, bares, cafés, cinemas, lojas e outros a ter em consideração na Manhattan de 2010/2011.





Podia ser uma tasca perdida na Sicília, mas a sua localização priveligiada na Nolita de Manhattan, o novo sítio in dos estabelecimentos arty de bom gosto, que fundem o melhor e mais trendy do SoHo com o tradicional de Little Italy permite elevá-lo a uma categoria distinta. O letreiro é simples e incisivo, assemelhando-se como o nome indica a um logotipo de stand de automóveis. O interior é uma homenagem ao carismático Fiat 500, veículo que marcou gerações e a própria imagem de Itália. No chão de azulejo xadrez pousam mesas toscas de madeira com as respectivas cadeiras. É difícil encontrar lugar em hora de refeição, equanto se espera pode admirar-se a colecção de revistas, miniaturas e quadros do modelo automóvel ou a homenagem pintada na parede (foto acima).

O menú encontra-se escrito a giz no quadro acima do balcão, sendo a palavra de ordem pasta, embora também haja saladas, bruschettas, antipasti, paninis entradas e aperitivos. Aqui, à semelhança de tantos outros estabelecimentos na zona, a água não é paga, existindo ainda carta de vinhos italianos e aperitivos de vermute. O menú de pequeno-almoço e brunch é bastante original e diversificado, deixando a cozinha italiana para entrar na de fusão (francesa e americana tradicional p.e.).

Visitar site oficial

203 Mott Street
New York, NY, 10012

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sufjan Stevens - Too Much

"Too Much" é o primeiro teledisco retirado de The Age of Adz, o alucinante e progressivo trabalho de Sufjan Stevens.

domingo, 21 de novembro de 2010

Arcade Fire - The Suburbs

O tema-título do último álbum dos Arcade Fire, reconhecido como a mais simples e bela canção deste registo, já tem vídeo:

sábado, 20 de novembro de 2010

Assinado por Tenente

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Durante o Novembro, Dezembro e Janeiro o MUDE apresenta uma exposição de peças escolhidas a dedo por José António Tenente. Este Assinado por Tenente propõe uma transposição do seu olhar sobre a colecção do museu, tomando particular atenção sobre o acervo de moda da Colecção Francisco Capelo.

Está dividida em pequenas secções pelo museu, sendo que cada uma possui uma palavra de ordem, seja a PAIXÃO traduzida nas peças em encarnado e negro, ou as artes do ESPECTÁCULO representadas em peças que misturam cortes mais arrojados e cores mais exuberantes, entre muitas outras que se insinuam através de transparncias de tecido negro. De Jean Paul Gaultier a Givenchy, passando por Yohji Yamamoto ou Lanvin, as peças escolhidas por Tenente para esta 2ª edição do creative lab contam cada uma uma história, admitindo o criador que foram fortes influência no seu trabalho e formação.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dalí, Disney e Figueres



Destino conta-nos nos seus sete minutos a história do encontro impossível entre uma bailarina e um atleta, dissolvida na passagem do tempo representada por Cronos. Sendo inspirada numa canção mexicana composta por Armando Dominguez, a curta metragem é já muito falada desde 2003, altura em que Dominique Monfrey passou para a tela o projecto de Walt Disney e Salvador Dalí, pensado há já algumas décadas. Para quem não sabe e nem cabe em si de espantro, Dalí chegou a assinar um contrato e trabalhar durante cerca de dois meses nos Estúdios Disney em Hollywoowd. Este projecto simplesmente não foi concretizado por falta de financiamento e situação de guerra, que impediram o espanhol de permanecer em território americano. Segundo uma iniciativa de Roy Disney, o filme foi divulgado desde então e surge-nos agora como parte integrante de uma exposição no Teatro-Museu de Figueres (Catalunha), de onde o artista era natural. Esta detém apenas 27 peças: quinze desenhos preparatórios (dez inéditos até então) seus para a curta-metragem a realizar com o mestre da fantasia americano, nove fotografias que mostram o encontro de ambos criadores e respectivas mulheres (em Los Angeles e Portligat, onde Dalí morava) e ainda algumas pinturas a óleo e aguarela.

Esta mostra, a decorrer até Maio do próximo ano, é organizada pela Fundação Gala-Salvador Dalí e pode dizer-se ser uma versão especial daquela que, sob a designação Dalí, Pinturas e Filmes, passou por Londres, Nova Iorque, Los Angeles, Melbourne, Madrid, Barcelona e Istambul. Vi Destino pela primeira na Tate Modern em Londres, não sonhando sequer que esta colabroação tinha existido. Unindo dois mestres surrealistas separados por um oceano, esta é daquelas peças fascinantes, em que um toque Disney consegue aumentar o poder catártico da sua intenção.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

João Manuel Serra (1930 - 2010)

ou "O Senhor do Adeus"

sábado, 6 de novembro de 2010

Equinócio musical

O Outono é habitualmente caracterizado pelo surgimento de novas propostas musicais, álbuns e vídeos. Aqui ficam algumas das novas sugestões em formato videoclip de artistas já bem nossos conhecidos:


The Drums - Me And The Moon


Patrick Wolf - Time Of My Life


LCD Soundsystem - Pow Pow

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Estoril Film Festival 2010


O que têm em comum uma exposição de fotografia de Lou Reed, uma retrospectiva sobre a obra de Kathryn Bigelow, uma master class de Anton Corbijn, uma homenagem a Roman Polanski e um desfile de moda de John Malkovich? A edição de 2010 do Estoril Film Festival vem impô-lo como o mais sólido evento de cinema português, distinguido pela diversidade das suas propostas, quer a nível de cinema, quer na moda, representação, música ou fotografia como veículos para o grande ecrã.

A abertura é hoje e tem as honras de Lou Reed, sendo que durante o evento surgem propostas cinematográficas bem variadas: em competição temos nomes como In The Shadows de Thomas Arslan, Copacabana de Marc Fitoussi, A Espada e a Rosa de João Nicolau ou Autobiography de Nicolae Ceausescu de Andrei Ujica; fora de competição surgem The American de Anton Corbijn, The Kids Are All Right de Lisa Cholodenko, Honey de Semih Kaplanoglu ou Machete de Robert Rodriguez. O júri é constituído por Laurie Anderson (música), Piotr Anderszewski (pianista), Juan Mari Arzak (chef), Adolfo Luxúria Canibal (músico), Bella Freud (designer de moda) e Valeria Golino(actriz).

Podem ainda ver-se a retrospectiva de Elia Suleiman, homenagens a Chris Marker, Marisa Paredes, Koji Wakamatsu e Baltasar Garzón; e memoriais a Ruy Duarte de Carvalho e Werner Shroeter.

Para consultar programação completa, clicar aqui

Lx Factory Open Day #5


A fábrica das indústrias criativas de Lisboa abre pela quinta vez as portas no seu aniversário, durante todo o dia. Assim, das 10.00h de hoje até às 4.00h de amanhã todos os espaços da Lx Factory vão ter música, dança, moda, performances, teatro, intervenções artísticas, degustações gastronómicas, num circuito programado para descobrir durante o dia. A organização desta efeméride conta com empresas convidadas e profissionais residentes, tem propostas tão aliciantes como uma mudança de visual no Happy Hair – Illusion Beauty Club por 1€ apenas, viagens alucinantes num touro mecânico ou degustação de águas conduzida pela EAU/Francisco Guedes. Há ainda a “Feira no Poleiro”, em que a loja Cantar de Galo apresenta aos visitantes uma selecção de peças únicas e originais de criadores portugueses e "Water Closet” desafio proposto a 13 criadores portugueses de múltiplas áreas de expressão artística para pensarem a casa de banho pública não só como espaço íntimo de reflexão pessoal, mas também de socialização e uso público.

Para jantar os espaços de restauração da Lx Factory oferecem excelentes propostas e à noite há “Juicy Night for Thirsty People” com Guilherme Garrido, Fórum Dança e O Rumo do Fumo, um conjunto de performances, concertos e projecções vídeo no edifício e ainda um espectáculo dos Endless Dream que funde as artes circenses, dança, música e representação. Como nesta 5ª edição o Open Day se associa ao festival urbano Pop Up Lisboa, as propostas nocturnas são de uma imensa variabilidade!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010