quinta-feira, 8 de novembro de 2007


Tem hoje início o Artcore, que se prolonga até dia 28, na Covilhã.
Dentro deste festival há coisas interessantes, coisas menos interessantes e coisas porcamente pouco interessantes.
Dentro das porcamente pouco interesantes destaca-se a exibição de filmes pornográficos como o lendário Garganta Funda(Deep Throat).
Nas mais interessantes, podemos encontrar a exibição do filme "Eyes Wide Shut", de Stanley Kubrick, um roteiro gastronómico afrodisíaco que terá lugar no Hotel Turismo, debates sobre pornografia digital e implicações éticas, actuação de bandas como os All Star Project ou ainda workshops de fotografia com nús (com modelos reais).


Para saber programa clique aqui

11 comentários:

Anónimo disse...

Porque será que se continua a classificar toda a pornografia como "porcamente pouco interesante"? Se fosse um mau filmne pornográfico, compreenderia, tal como compreendo que se critique um mau filme "normal". Mas, ainda por cima, esse "Garganta Funda" é um excelente filme, considerado por muitos como o melhor filme pornográfico de sempre, com uma narrativa e um objectivo muito claros, o que é muito diferente de uma outra pornografia baseada na mera filmagem de cenas de sexo.

Definitivamente, este medo patológico do sexo público é uma das marcas de degenerescência social causada pela moral tradicional judaico-cristã. Todos nós somos filhos dessa tradição, quer professemos a religião ou não.

Parabéns ao Artcore, por incorporar pornografia de qualidade na sua programação. Está na altura de acabar com a mania pegada do rotular tudo o que diga respeito ao corpo como "indecência".

Nessuno disse...

A meu ver, qualquer tipo de pornografia é "porco". Tem como objectivo a pura satisfação do ego humano, do prazer mais íntimo. A arte não tem esse fim. A pornografia exibe o sexo como algo mecânico, que apenas "se faz para mostrar o acto cru", deixando o misticismo e o prazer real, que o coito esconde realmente. Os filmes eróticos distinguem-se aqui dos pornográficos. Não apresentam o prazer de forma explícita. Conseguem também satisfazer o gozo do Homem sem recorrer à apresentação do corpo como um acessório. O corpo humano é perfeito demais para ser exibido de forma tão desleixada.
Em segundo lugar um filme em que "o clitóris de Linda localiza-se no fundo da sua garganta, e agora ela deve encontrar um pénis grande o bastante para penetrar-lhe bem fundo e gozar" não tem nada de magnífico. Nenhum ser humano considera qualidade algo que se limita a ser circunstancialmente prazenteiro, servindo-se do seu corpo para o fim mais vil "a demonstração do acto sexual como se fosse arranjar o peixe do jantar". A meu ver não é nada tão quotidiano. É algo tão simples e complexo simultaneamente que requer mais atenção.
Erotismo sim, pornografia não.

Anónimo disse...

Felizmente, a Arte não é algo tão simples assim, nem tão sem graça. Desde quando a Arte tem de ser necessariamente coisa celestial e intocada pela sujidade do Mundo? Afinal, onde encontraste essa definição que diz que a Arte não tem por fim a satisfação (imediata) do ego humano, que não expõe o prazer mais íntimo, que não expõe cruamente o mais quotidiano? Nunca ouvi nenhuma definição credível de Arte que não diga exactamente o oposto do que dizes, pelo que gostaria de saber quais as tuas referências. É claro que, a menos que queiras reinterpretar o que tu mesmo dizes, então a Paula Rego também não faz Arte, tal como o Picasso. Imagino também que, a seres consistente, o Bocage não tenha tido qualquer mérito na sua obra. Afinal, apresentar cenas cruas íntimas não pode ser Artístico... Recuso em absoluto essa tua ideia. Se tivsses razão, eu não quereria saber de Arte para nada. A Arte seria aborrecida.

Essas associações que fazes entre sensualidade e erotismo, mundano e pornografia, sobretudo quando carregadas de uma valorização tão subjectiva, são simplistas porque ignoram, para começar, a riqueza e complexidade do que é ser humano, e por outro lado porque a realidade não se compadece com esse "preto e branco", com essas categorias standardizadas. Então e os Fura Del Baus, são teatro ou pornografia? E o "Império dos Sentidos", é erótico ou pornográfico? Este último, trata-se de um filme lindíssimo sobre uma dada época histórica do Japão, mas a dado ponto vê-se uma ejaculação em grande plano... Nos casos intermédios, que são a maioria, as tuas categorias tipificadas não têm utilidade.

Mas o principal é mesmo a primeira parte do que referi. A "alma" humana tem uma faceta mais etérea, mas também tem uma faceta muito terra-a-terra. E não há qualquer facto que suporte a predominância de uma em relação à outra. Por vezes, queremos fazer amor, enquanto por outras queremos foder. Nem sequer concordo que o erotismo represente a primeira e a pornografia a segunda. Afinal, os filmes eróticos são tão bons/maus quanto os pornográficos, só não mostram pénis e vaginas. Mas ainda que assim fosse, queres glorificar um e condenar o outro é incompreensível, pois ambos fazem parte daquilo que nós somos. Por vezes queremos partilhar a intimidade de outra pessoa, e por outra desejamos apenas o prazer fácil, animalesco. Nenhuma destas características é mais humana que a outra, a não para alguma retórica idiota religiosa, na qual infelizmente vivemos.

Erotismo sim, pornografia também. Sejamos humanos, vivamos a vida de forma espiritualmnte rica, mas sem esquecermos que também somos um corpo, que também somos animalescos por vezes, e que negar instintos básicos geralmente resulta em neuroses e filosofias inconsistentes. Que aborrecimento é a Arte sem o pornográfico...

Nessuno disse...

Acho pelamente ridículo comparares a Paula Rego, o Picasso, o Bocage e o filme a um filme pornográfico onde é duposto uma rapariga ter o clítoris na garganta. Acho que se dissesses isso a alguma destas personagens desatavam a rir na tua cara. Não disse que não existiam maus filmes eróticos. Mas não existem bons pornográficos. Que arte tem estar 5 minutos a olhar para um pénis a penetrar uma vagina..UAU que beleza. A arte deve ser feita com algo do autor, da sua dimensão, ainda que inconsciente. Não acredito que os actores sintam repulsa ou gosto no que fazem..o realizador pode tirar algum partido, assim com oa equipa, mas acredita numa coisa: jamais compares qualquer filme a um pornográfico, o último não trata de representação, trata-se de realidade ou de transfiguração impingida. Tenho pena da tua opinião, não posso ignorá-la pois é tão imortante como a minha. Quando eu referi a crueza, sabes a que tipo me referia, órgãos de copulação em acção, sem expressar o prazer que realmente está a ser sentido. Percebes agora onde quero chegar? E não estou a referir o prazer íntimo, é ao "prazer da foda" que me refiro. Nem esse é expressado. Aquilo que é transmitido são pessoas a ignorar o produto daquilo que fazem, fazer por fazer, isso não é arte..a arte não é fazer por fazer, é fazer por algum motivo, seja bom , mau, o que seja, ninguém faz alguma coisa por fazer e faz dela produto artístico. Este chama-s apenas de produto.
Tu conheces-me bem, sabes que o meu pintor favorito era Dalí..tenho um esboço pornográfico de uma orgia dele e sabes..não lhe acho piada nenhuma, não me sinto admirado como com a crueza das obras da Rego, como um filme sobre sexo como Íntimo ou como uma série como os 7 Palmos de Terra..sinto-me indiferente..resultou de um desafogo da sua intimidade..a arte não nos põe indiferentes e se há coisa que admiro no mundo é a obra de Salvador.
Creio que não chegaremos a lado algum com a discussão..já partilhámos pontos de vista e nenhum de nós vai mudar.

P.S. Não sei porque não assinas, sabes que se estás a expressar uma opinião que vem dentro de ti e da qual te orgulhas, não deves ter problemas. Ou afinal a sociedade em que vivemos impede-te de dares a conhecer uma referência quando falamos de pornografia? Não leves isto como tom irónico, mas sim como dúvida.

Cinema_Class disse...

Um actor só é bom, quando na sua individualidade e personalidade nao deixa transparecer qualquer traço perante a personagem que interpreta. Perante esta definição, posso afirmar que um bom actor pornografico é aquele que mente e em quem toda a gente acredita. Penso que nao anda por aí um homem chamado D. Quijote, mas que essa figura ja foi interpretada em teatro, lá isso foi. Uma vezes mal, outra vezes bastante bem...

Também acontece o mesmo com o homem do imaginário feminino... alto, com fato macacão, pronto a ser "devorado" pela dona de casa. Os grandes actores, as grandes produções, sabem como fazê-lo... Sabem como penetrar no universo idilico das fantasias humanas.

Um bom filme pornografico, tal como um bom filme de outro genero qualquer, tem que ter este elemento. Enganar o publico, distrai-lo, criar a chamada "Suspention of Disbelief". è isso que outras artes visuais nos incitam a fazer. e è neste ponto que teem de ser objectivamente julgadas.

O conteudo está ao gosto de uns, mas pode nao estar ao gosto de outros. O filme nao deixa de ser arte por isso.

Quanto ao facto de a arte ser explicita ou nao, devo recordar que desde a.C, os hindus (Kamasutra), gregos (nus explicitos de homens), romanos (Sexo explicito desenhado nos vasos etc...) e outras culturas desenham actos sexuais completamente explicitos (dentro da tecnologia usada popr eles). A pornografia nao é portante, um corrompimento moral do sec XX, muito pelo contrario, está na genese humana. Pertence-nos.

Anónimo disse...

Não contava responder de novo, mas não podia deixar de notar o texto fantástico enviado por cinema_class. A pornografia responde a uma necessidade profunda em nós, e sempre esteve presente desde tempos imemoriais. Qualquer pessoa que já esteve no museu do sexo de Berlim sabe que até o místico oriente é rico em obras pornográficas com milhares de anos. Será que alguém tem o direito de rejeitá-las como não artísticas?

Se se afirma que a pornografia não é arte por ser em geral explícita, mundana, comezinha, respondo que não é verdade, e a Paula Rego e o Picasso são exemplos disso mesmo (dizer que algo é ridículo sem explicar porquê não é um argumento justo...). A sua obra, em dados momentos, se não é pornográfica é pelo menos muito crua e demasiado bruta. É "pornográfica" no sentido de ser directa. É-o como quando se usa o termo para dizer que um preço demasiado alto para um objecto é "pornográfico".

Se se afirma que a pornografia é errada por ser sexualmente explícita, pior ainda. A sexualidade não deve ser reprimida ou cristalizada em devaneios etéreos. A longa lista de distúrbios relacionados com a má vivência do sexo está patente em mutos anos de história. É o mal do Fernando Pessoa, por exemplo. Há espaço na psique humana para o sexo bonito e romântico e para o sexo apenas sexo. A pornografia representa este último. E a Arte, como expressão última dos anseios e representações humanas, é perfeitamente compatível com ambos. Aliás, já dei dois exemplos que ficaram sem resposta, que mesmo sendo pornografia são obviamente Arte - os Fura Del Baus, e o "Império dos Sentidos".
Haverá retórica moralista que possa derrubar tantos factos?...

Para terminar, muito melhor que eu diz o grande escritor americano, que este ano ficou perto do Nobel da Literatura, Philip Roth (que é um moralista, diga-se de passagem):

"Não importa quanto sabes, quanto pensas, quantas ideias ou planos conjuras: não és superior ao sexo."

Assinado: Ricardo (não tinha assinado antes porque mantive sempre a discussão num plano generalista e impessoal, sem referências individuais. Mas já que o nome importa...)

Nessuno disse...

Bem vocês vão-me dizer que respirar é arte? que morrer é arte? que nascer é arte? que andar é arte? que comer é arte? que defecar é arte? então pq é q o sexo explicito é arte? nao consigo perceber. desculpem mas nao consigo. O que é q tem existirem representações milenares sobre pornografia? em que é que isso as engloba na arte? já repararam que os vossos fundamentos só vivem de comparações e factos? eu não respondo "porque isto", mas é assim, se querem comparações e factos posso enumerar: na roma antiga os imperadores tinham a sua competencia e respeito medidos pelo numero de casos a que hoje chamamos pedofilia que eles tinham. algumas crianças, nomeadamente as pre-adolescentes gostavam. mas elas descobriam a sexualidade delas de forma obrigada. em africa ha tribos em que os filhos são brutalmente assassinados em rituais sexuais, ous eja, o principio do sado-maso de morte. acham arte? na tailandia existem mulheres que sao sorteadas para determinado marido para ver se se ajustam ao seu perfil sexual, sendo feitas peças escultura que representam cada uma delas. acham ja agora os filmes pornograficos de pedofilia arte? é que são caracterizáveis pelo que voces proferiram a partir do momento em que os meninos ou adolescentes sofrem de sindrome de estocolmo ou qq outra patologia do genero: o ser humano sente prazer e expressao. podem ser actores, meros representantes de algo que nao e o seu sentimento. para mim nao e arte, talvez para vcs seja.
Sabem, achoq ue todo este debate se esquece de uma coisa:a arte é subjectiva, eu tenho um conceito diferente do vosso, ninguem o pode questionar e altera-lo, assim como nao posso alterar o vosso. a pornografia nao me provoca prazer, susto ou horror, provoca-me indiferença e é isso a razão pela qual não a considero arte, só por isso. A vcs altera-vos as emoçoes, logo ai já é arte. Percebem onde quero chegar?
Bem, obrigado por toda esta viva discussão.

P.S. Eu sei que eras tu, mas gosto de falar com um nome, "anónimo" é impessoal, sinto que devoto a minha confiança e parte de mim num sem rosto.

Anónimo disse...

Bom, começando pelo fim. Propões uma ideia extremamente sedutora. Afinal, a Arte é subjectiva, é em grande parte o que quisermos fazer dela. A ti a pornografia não diz nada, logo para ti não é Arte. Certo? Errado. Sim, a definição dos gostos artísticos é subjectiva em certos casos, mas a definição geral de Arte pode ser verificada quanto à sua coerência. Existe alguma arbitrariedade em decidir que um objecto é ou não Arte, mas em geral há um conceito por detrás que nos leva a chamar Arte a uma mesa num museu e não à nossa secretária de casa. Esse conceito é que importa discutir, não as particularidades subjectivas. E, o que em todas estas respostas tentei mostrar, ainda que de forma não personalizada, foi que a concepção de Arte que transparece do que dizes, e que nunca sistematizas nem defines concretamente, é incoerente, e como tal não é uma boa descrição do que é verdadeiramente a Arte. Já apontei algumas das incoerências (se afinal é o explícito ou o sexo explícito o problema, se outros exemplos de obras artísticas que misturam pornografia o são ou não, etc.), mas o que dizes nesta última resposta parece-me, mais que incoerente, simplesmente errado, e passo a explicar-te porquê.

Primeiro, quando perguntas se "percebemos" aquilo que achas que "esquecemos" neste debate, e que é o facto de teres um conceito diferente do meu, e nenhum de nós poder alterar o outro. Percebo perfeitamente que o aches, mas não é verdade. Os nossos conceitos subjectivos podem e devem, como tudo na vida, ser questionados, e são muitas vezes alterados (é assim que crescemos). Achar-se que diferenças de opinião são imutáveis, sobretudo quando estão equivocadas, e que nem adianta debatê-las porque nenhuma das partes vai mudar, é de um derrotismo que não posso subscrever. Felizmente somos entidades dinâmicas, estamos sempre a aprender e a crescer, e é através do choque e do debate de ideias que isso acontece. Quem não muda de opinião mesmo perante uma enrome quantidade de factos, evidências e argumentos, tem um nome: é casmurro. E eu tenho a certeza que tu não o és, pelo que admito que te tenhas apenas expressado mal.

Depois, e igualmente grave, é dizeres que "os vossos fundamentos só vivem de comparações e factos". Então deviam viver de quê? De ideologias, moralismos e juízos vagos? Mais uma vez, hoje há esta tendência para se achar que o conhecimento baseado em factos e provas é tão válido como crenças. Hoje, mesmo altas autoridades intelectuais como o pseudo-intelectual falecido Eduardo Prado Coelho, por ignorância, afirmam barbaridades do estilo de "as verdades trazidas pelo conhecimento científico não são mais válidas que as verdades da religião". É o já famoso niilismo pós-moderno, que é tão estúpido como inconsequente, e tal já foi mostrado por pessoas muito mais inteligentes que eu. A única forma de argumentar e conhecermos o Mundo é começando por basear-nos em factos, em evidências, em verdades demonstráveis e falsificáveis, tanto na ciência, como na filosofia, como nas conversas de café. Pela consideração que te tenho, sei que não és uma dessas vozes literalmente de burro. Estou certo que não querias dizer aquilo que disseste, e portanto não me alongo neste ponto. Acredito que aqui também te tenhas apenas expressado mal.

Agora o que me parece mais grave, e que só me dei conta aquando desta última resposta, é o âmago da tua oposição à pornografia. Então tu achas mesmo que pornografia e sexo (no sentido privado) são a mesma coisa?... Achas mesmo que se colocares uma câmara num quarto de qualquer casal, sai um filme pornográfico? Aos quereres colar a pornografia com a pedofilia, estás a usar o mesmo argumento do presidente dos EUA quando dizia que "quem me critica está com os terroristas". É um argumento absolutamente ilógico, e é fácil explicar porquê mostrando que se trata de uma confusão de níveis. A pornografia não é sexo explícito - é uma representação explícita de sexo (o erotismo é uma representação semi-implícita de sexo). Sexo explícito, no formato vídeo, seriam os vídeos amadores que alguns casais filmam (a tal câmara no quarto). Esses têm interesse comercial apenas na medida da nossa curiosidade voyeristica mórbida, não como Arte (esses sim), pois não são uma representação de nada. A única forma de interpretar como consegues sequer conceber um argumento assim é porque julgo que estás a afirmar que os actores num filme pornográfico têm verdadeiramente sexo como pessoas normais... Mas não têm, nem tem sequer nada a ver. Um casal tendo sexo na sua intimidade fá-lo de forma radicalmente diferente de um filme pornográfico, por razões óbvias - não tem de se exibir para uma câmara, nem de executar os movimentos e sons que venham mais tarde a provocar excitação em outras pessoas. É por isso que a pornografia é um mau instrumento educativo - é irreal, é uma fantasia, é um estimulante, não um "reality show". É aqui que está a tua confusão. A pornografia e a pedofilia não são comparáveis de maneira nenhuma, sobretudo porque estão em níveis diferentes. Assim, e para responder às tuas perguntas retóricas, não, a pedofilia obviamente não é Arte, mas uma representação da pedofilia pode ser Arte - o que são os filmes "Lolita" e "O Amante", por exemplo? Da mesma forma, uma representação da respiração, uma representação da morte, uma representação de fezes, todas podem ser tratadas de forma artística, como é óbvio. O assassinato também é um crime sem nada de artístico, mas não é por isso que todas as obras de Arte com assassinatos deixam de ser Arte. De acordo com essa tua concepção, que bane o sexo explícito e a pedofilia (suponho que outros desvios sexuais também), és também forçado a banir todos os restantes crimes. Ou seja, caímos naquilo que já disse no outro dia. A tua Arte é míope, e apenas apanha o lado supostamente idílico do que é ser humano (leia-se, o lado desinteressante).

Para colocar as coisas de forma simples, pornografia está para o sexo como os filmes que abordam a questão da pedofilia estão para a própria pedofilia. Os primeiros são a representação, são onde está a Arte, e os segundos são a realidade. Tendo em conta isto, é fácil entender porque é que os outros exemplos que dás são despropositados: referem-se a actos reais entre pessoas reais, a costumes culturais, e não a representações e manifestações artísticas. A acreditar no que dizes (os relatos sobre tribos africanas são sempre altamente exagerados), a tal tribo que mata as crianças, no seu acto, não faz nada de Artístico. Mas um filme, um livro, uma peça de teatro sobre esse mesmo acto pode obviamente ser uma boa obra de Arte. Isto porque a Arte se coloca ao nível da abstracção, da nossa capacidade enquanto humanos, inimitável naquilo que conhecemos da Natureza, se projectarmos situações e as reconfigurarmos mentalmente - é o "suspension of disbelief".

Espero agora ter sido mais claro. Na verdade, e perdoa-me o tentar interpretar a tua posição, mas quer-me parecer que este ódio à pornografia não resulta de uma diferença intelectual sobre o conceito de Arte, porque já disseste sobre ele coisas muito contraditórias. Parece-me que já tens na cabeça que a pornografia é algo mau, e tentas recriar o conceito à medida que vais respondendo para justificar o preconceito moral, e à medida que te vão faltando os argumentos. E nisso somos radicalmente diferentes. Eu prefiro primeiro ter uma visão coerente de conjunto, apoiada em factos, antes de me pronunciar sobre casos específicos. Na concepção de Arte que comungo, que não saiu da minha cabeça (não gosto de brincar aos filósofos na criação de conceitos), mas sim que é obtida daquilo que estudei e vejo na História da Arte, a pornografia coaduna-se perfeitamente. A razão porque ainda não desisti desta discussão, e tenho-a mesmo divulgado a algumas pessoas, é porque sou um profundo defensor do direito à imoralidade e ao mau gosto. São duas faces da liberdade. Os moralismos são úteis em certos casos, mas nunca sem serem pensados e debatidos, nunca sendo debitados como verdades absolutas acima de crítica. Um Mundo em que apenas o moralmente correcto e a face etérea do ser humano vingam, onde parece que só a pureza é santificada, é um Mundo onde não quero viver. Somos corpo, somos terra, somos tudo.

Ricardo

Nessuno disse...

1. Não somos tudo, somos meras pessoas numa terra de biliões de seres vivos
2. A maioria dos filmes porno não fazem qualquer esforço para merecer ser arte, não há técnica. Só há arte se existir técnica. Não vejo muito mais esforço que nesses casais aventureiros.
3. Estás errado, não precisa de haver conceito para que haja arte, pois esta é resultado da técnica (chama-me contraditório mas estou a seguir o teu reciocínio), se não tiver título e for abstracta/moderna abstracta é pura interpretação subjectiva. A tua pode ser completamente diferente da intenção do autor
4. Os filmes, livros, quadros podem também não ser arte. Nem tudo o que fazemos é arte.
5. A arte só é arte dependendo do indivíduo. Fiz hoje pesquisas na minha modesta cidade. Há teses muito contraditórias, ams a maior parte considera-a processo resultante de diferentes técnicas que visa a expressão humana e que só é válida quando aceite pelo indivíduo. Autores? Não apontei e não fugi, posso indicar-te: procura dicionários de historia de arte, aquela colecçao ARTE do publico, dicionarios hoaiss e universal.
6. Dizer que alguém tem preconceitos só porque discorda de um tema que é debatido entre a religião é tão errado como dizer que a liberdade existe de forma absoluta. Não me lembro de fazer referência a moralismos, religiões e maus costumes. Eu não discordo da existência da pornografia, só não acho piada e não acho arte.
7. Sabes muito bem que existem filmes pornográficos de pedofilia. Não tentes colocar-me horrendo e provinciano por fazer-lhes referência. Lembrei-me da sua existência e de salientar o facto de que para alguém é arte e para mim não.
8. Confundir objectivo com subjectivo no que toca à Arte pode ser misturar água com azeite ou água com açúcar. No primeiro caso podes considerar que subjectivo já pressupõe que haja algo de objectivo inserido pois não vivemos em particulas desagregadas no vazio, existe a Terra, planeta real e que condiciona todos os processos do ser humano. Na segunda podes considerar as noções básicas de objectivismo e subjectivismo em que uma coisa tem que ser coerente objectivamente e pode ser alvo de interpretação subjectiva. Estás certo! Mas como pode ser subjectivo algo que só por si já é acatado como objectivo, real? é difícil. Mas não é impossível. E as pessoas que gostam, como tu, conseguem encontrar aí arte.
9. Sabes que não acredito na mudança, mas na modelação. Conseguiste modelar alguns aspectos do meu pensamento. Fico grato por tal, mas o núcleo não mudou. Casmurro? Sim, defeito pessoal.
10. A catarse e o pathos são 2as óptimas técnicas de argumentação. Adoro a forma como defendes as tuas opiniões e peço desculpa por não ser igualmente paciente e argumentativo.
11. Gostaria de por ponto finald a discussão. Ambos percebemos as nossas ideias. Demorei tempo a postar pois só li hoje devido ao tamanho do comentário.
12. Se o mundo não fosse objectivo, seria impossível o subjectivismo, não sou experiente como tu, mas tenho carácter em formação e não podes determinar as minahs opiniões só porque as consideras erradas. Tal como tu dizes, existe liberdade, mesmo para o errado.

Anónimo disse...

Peço desculpa, mas eu geralmente sou muito profícuo, e não tenho o dom da síntese. Sei que queres acabar a discussão, pelo que desta vez tentarei não me alongar, até porque se vires com atenção concluirás que quase todas as questões que colocas já tiveram resposta num momento anterior. Por exemplo, já expliquei que em pornografia existe técnica sim, e que filmes pedófilos (pedofilia em geral) não estão ao mesmo nível de filmes pornográficos. Ficaram apenas dois pontos breves que gostaria de esclarecer.

Sim, é óbvio que da variabilidade intra e inter indivíduo surge a subjectividade na apreensão do Mundo, que se é verdade até nos aspectos mais vulgares da nossa Vida, obviamente o é também na Arte. Onde começa uma praia e acaba o mar? Sabes claramente que o areal é praia, e que a água profunda é mar, mas onde defines a fronteira? Se tiveres uma resposta, revolucionas os métodos cartográficos, porque ninguém sabe responder a isto. Com a Arte acontece o mesmo: podemos e devemos saber em geral que certas coisas, objectivamente, são Arte (o areal), e outras objectivamente não o são (o mar), mas há uma fronteira difusa onde toda a subjectividade é possível. O meu ponto sempre foi que dissesses explicitamente onde colocas a tua fronteira (na prática, qual a tua definição de Arte), e foi isso que andaste a alterar desde o início desta discussão ao sabor da conversa. Assim, a tua longa resposta sobre objectivo/subjectivo não é uma resposta a nada que eu tenha dito.

Em segundo lugar, e o mais importante de tudo apesar de ser uma questão lateral ao ponto de origem, não compreendo como é possível dizer-se que não se acredita na mudança. Isso é como dizer que não se acredita nos estados químicos dos elementos, na existência física dos objectos ou no D. Afonso Henriques. A mudança existe, é um facto, e afecta-nos a todos. Digo-te isto como amigo, é sempre muito má política deixares que as conjecturas que crias acerca do Mundo e de ti deixem de fora o óbvio e te impeçam de evoluir (não necessariamente nesta questão, que é uma mera opinião de pormenor, mas nas coisas importantes). O Mundo funciona como funciona, não como nós queremos que ele funcione. E aí, tal como em toda esta discussão da Arte, digo-te que estás equivocado, de novo, como amigo. Foi por isso que te falei em preconceito. Preconceito é um conceito prévio a toda a discussão, que a modela e pré-determina. E quanto a parecer-me um preconceito moral (entende moral como ética interior ao sujeito), relê as tuas primeiras respostas. Vais encontrar lá todos os sintomas.

Por último, deixo-te um conselho sobre este blog, e apenas o faço agora que a discussão se encerra para que não pensasses que o fazia como argumento. Não compreendo porque necessitas de aprovar os comentários antes de eles ficarem expostos num sítio com este cariz, onde não me parece que alguém possa vir atacar-te ou insultar-te, e onde nem estás a assinar com o nome próprio. Mas o que sinceramente me incomodou foi o facto de só aceitares os meus comentários quando já tinhas uma resposta preparada. Reparei que aceitaste logo o comentário da cinema_class, portanto não sei se o fazes apenas comigo. Mas adiante, aqui fica mais um conselho de amigo (acredita que é sincero). Para a discussão ser simétrica e aberta, tens de permitir que os outros joguem pelas mesmas regras que tu. A vida não é uma série de tribunais dos anos 90, em que o advogado com as alegações finais ganhava sempre o caso. Torna-se frustrante e muito injusto para quem usa o seu tempo a tentar incentivar a discussão num espaço e depois é atirado consecutivamente para o banco de trás dos comentários. E com esta última participação me retiro da discussão.

Um abraço,

Ricardo

Nessuno disse...

A minha vida não é o blog. No dia do comentário que tu referes estava disponível. Só li os teus quando pude e quando me sentia preparado (por inúmeros factores) para responder. E isto não é sinónimo de ter resposta preparada.
O meu conceito não se alterou, tal como o que tu fizeste, modelei-o e acrescentei conveniencias. Moral? Sabes que dentro da moral há o imoral também e também podes estar a sê-lo, contudo não te apontei o dedo como se fosses tal coisa.
Olha rapaz não sei se estudaste geologia mas o fundo oceânico tem uma componente que é a talude continental, onde acaba o areal e começam as formações basálticas mais recentes (relativamente) cobertas por sedimentos que podem ser areias mas são em geral por argilas, os sedimentos mais finos. Ainda assim os geólogos estão em concenso no que toca ao final do areal, a plataforma continental, dado que os sedimentos que predominam são as areias.
Quanto à mudança temos pena, mas a tua opinião não é absoluta e este sim é um assunto inteiramente subjectivo, onde não tens direito de interferir dizendo que estou errado. Ninguém está certo ou errado. É uma filosofia de vida. Se me prejudica, agradeço o teu conselho, mas não esperes que mais uma vez mude, sou totalmente casmurro e nisso sim estou errado.
Quanto a síndromas, relê as tuas e encontrarás também preconceitos. Sim, porque não as ideias pré-concebidas de cariz negativo são preconceito, as mais liberais também. Aqui contradizes-te um pouco. Todos funcioanmos a preconceitos, que vão sendo modelados. Caso contrário, não haveria discussão. Deste-me a definição de preconceito e não reparaste muito neste pormenor.

Em último lugar, gostava que não fizesses conjecturas sobre aquilo que não fazes. Os comentários sao moderados a partir do dia em que um(a) engraçadinho(a) resolveu enviar afirmações estúpidas como "Vamos fazer um jogoCASAS COMIGO?", "epa va lá, casa lá", "não me respondes é", "o dono do blogue não quer casar comigo". Acho que não têm lugar no meu espaço.
Obrigado, abraço.