quarta-feira, 2 de julho de 2008

A crítica destrutiva


É fácil quando um álbum de uma grande banda sai a crítica ser consensual quanto a deitá-lo a baixo. Ultimamente isso tem-se verificado, mas saliento dois casos, que todos já devem imaginar quais são...Coldplay e Sigur Rós. É verdade, lançando ambos o novo álbum este mês e sendo o estilo um pouco afastado ao que nos habituaram, ninguém hesitou em atacar. No caso dos Coldplay chegaram mesmo a acusá-los de plágio duas vezes, primeiro em relação à banda de Nova Iorque Creaky Boards e depois a Joe Satriani. Obviamente toda gente é livre de usar os mesmos tons e tratando-se de uma aventura com o sr. Brian Eno, as influências e a composição podem ser mais que muitas. Como o nome deste senhor aparece estampado no registo, ninguém hesita em tirar autonomia aos Ladies. O "it" dos Coldplay está lá, com mais ou menos orientação do produtor, está lá, tem notoriamente o seu toque, mesmo com camadas de novidades. Será que custa assim tanto ver a presença da essência. Dou 4 ou até 5 estrelas. A melhor introdução da banda até à data (a par de "Politik"), "Life in Technicolor", mostra a exploração do ambiente etéreo conseguida em X&Y, desembocando em "Cemeteries of London", música que prova a estadia destes ingleses na América do Sul. As faixas que dão o nome ao álbum "Viva La Vida" e "Death and All His Friends" são excelentes, verificando-se a clara antítese que pretendiam, quer a nível lírico, quer instrumental. As duas faixas com hidden tracks são algo de estrondoso e o destaque vai obviamente para "Lovers in Japan". Que seja exaltada a nova veia música-mundo dos Coldplay!

Quanto aos rapazes da Islândia, acho muito difícil nos presentearem com algo melhor que með suð í eyrum við spilum endalaust. Em primeiro lugar porque conseguiram fazer duas coisas que aqueles que exercem crítica musical em jornais e blogues pouco se aperceberam: conseguiram tanto afastar-se do estilo com que nos habituaram desde Agaetis Byrjun (como a presença atmosférica incluída pelo passar do arco de violoncelo na guitarra electroacústica de Jónsi), como manter a sua linha musical simultaneamente, deixando uma marca verdadeiramente sua, presente no excelente exemplo de rock progressivo que o CD nos apresenta. A sincronia entre o baixo e a bateria nunca foi tão excelente, a voz está suprema como sempre e o que dá o toque no álbum com certeza é o piano e os efeitos de teclado. Metade do disco assegura a sua presença constante. Em álbum nenhum isto aconteceu de forma tão evidente. E depois...o acústico. A guitarra acústica, o piano e a voz cristalina em sintonia, música clássica com sentimento rock, o tradicional islandês. Bem, com tanta coisa, TÃO VARIADA, como alguém tem coragem de não dar no mínimo 4 estrelas ao registo? Eu darei 5 de certo, não tem nenhum erro para mim. É uma aventura pela novidade, que saiu óptima, leva os sentimentos ao extremo, a emoção ao apogeu, como desde o seu início os Sigur Rós o permitiram. Estão cada vez mais maduros e senhores de si, nunca deixando a humildade que tanto os caracteriza. með suð í eyrum við spilum endalaust traz-nos ainda continuidade dos momentos mais melancólicos e bonitos de Takk..., explorados no final deste álbum de 2005.
Como não podia deixar de ser, os srs.-aponta-o-dedo só comentam o single, Gobbledigook. É sem dúvida a grande novidade e esmagadora, mas não custaria debruçar-se também sobe Festival, a melhor, mais progressiva e emocionante faixa de með suð í eyrum við spilum endalaust, assim como inní mér syngur vitleysingur, "ára bátur" (que nos deixa atordoados pelo seu piano e coro, conjunto completo por música clássica) e a dupla "Fljótavík" e "Straumnes", um das mais bem conseguidas faixas contínuas nos dias que correm. Toda a gente estava à espera de criticar "All Alright", a primeira música em inglês da banda, mas não podem. Felizmente, acredito na unanimidade em relação a este caso, a linda conclusão, melódica, apaixonante, ambígua e triste, não deixa ninguém indiferente. Terá sido a primeira a incluir elementos vocais em "esperancês" desde o mega-sucesso ( ). A guitarra acústica em "Illgresi" fica na memória, tal como as restantes músicas.
Há algo que ninguém se deu ainda ao trabalho de interpretar, por algum motivo os Sigur Rós não incluíram a etérea magia do arco de violoncelo na guitarra eléctrica desta vez...mas não clarificaram eles a ideia com o título do álbum (tocamos para sempre com um zumbido nos ouvidos/em>)? Até já imagino se o registo marcasse a presença deste suplemento...a crítica diria que não teriam sido inovadores e que não evoluíam. Nunca está satisfeita.

Acho que em ambos os casos não atentaram numa coisa essencial. Afinal de contas ainda vivemos na era dos CDs, perto da extinção mas vivemos...o artwork de ambos os álbuns excedeu os limites pensáveis, conseguiram criar uma associação impressionante co mas próprias músicas e o sentimento do álbum e da própria banda. No caso dos Codplay, a oposição Vida/Morte, celebrando a vida, tendo noção da morte e de que o fim o é por si mesmo. Já nos Sigur Rós, a recolha do trabalho de Ryan Mcginley "I Know Where the Summer Goes", aplica-se que nem uma luva ao espírito livre do álbum e à apologia do ser humano enquanto unidade física e espiritual. O próprio CD tem estampado o céu.

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