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A Aula Magna é já conhecida entre o público lusitano por estar a cargo dos grandes espectáculos intimistas. Acontece que os escoceses Mogwai seriam uma causa improvável de espectáculo deste teor. Post-rock epopeico e apoteótico-melancólico com cunha de agressividade não seria aquilo de esperar fazer soar pelas nobres paredes da sala de conferências e espectáculos da Universidade de Lisboa. Mas nem tudo tem que ser linear, a sala aconchegante e praticamente esgotada permitiu desde logo que o público se respeitasse, permanecendo sentado e não emitindo qualquer som durante as músicas, deixando-se progressivamente levar pelo conteúdo instrumental das músicas até à libertação do espírito atormentado de um final de semana de preocupações. Os Errors, conterrãneos da banda, abriram o seu concerto com uma excelente performance, induzindo qualquer um no mundo da melodia abstracta e sem conteúdo lírico. Apelaram a atenção do público para o seu merchandising e deram lugar às estrelas da noite. Entraram de súbito e cumpriram a sua promessa: apresentar o último álbum
The Hawk is Howling, do qual foram retiradas a maior parte das faixas tocadas ao longo das duas horas e quinze minutos de concerto. Enchendo a atmosfera de fumo por forma a adensá-la e mistificá-la, iniciaram-no com a introdução "
I'm Jim Morrisson, I'm Dead", na qual o piano desempenhou papel fulcral. Ao longo do espectáculo doi ajudado ou substituído sempre pela densidade das guitarras, pelo baixo e bateria sincronizados ao milésimo e pedais, inclusivamente de voz. Etre as outras composições tocadas deste álbum encontram-se "
The Precipice", "
Scottland's Shamme", "
I Love You, I'm Going To Blow Up Your School", "
Thank You Space Expert" (momento mais calmo da noite) e a conclusão antes do encore com "
Batcat", o single de avanço, que formou uma sequência continuada desde "
Like Herod". Contudo, pode dizer-se que o momento da noite chegou com "
Friend of the Night" de
Mr. Beast, onde o delicado toque do piano era completado pela harmoniosa composição das cordas e fez rever tantos estados de espírito de uma só vez. Outros dos temas a destacar foram "
Yes! I Am a Long Way From Home" e "
Mogwai Fear Satan" de
Yong Team. Voltaram para um encore, onde tocaram "
The Precipice" e "
2 Rights Make 1 Wrong", adicionando mais um "
Obrigado!" bem pronunciado. "
Hunted By a Freak" fez recordar "Happy Songs For Happy People", enquanto que "
Ithica 27ϕ9" e "
Helicon 1" faziam a Aula Magna se desintegrar em pequenas partículas com a distorção inebriante das guitarras.
Em suma, o espectáculo foi de uma grande intimidade e instensidade na medida em que o público pode contemplar os seus sentimentos intrínsecos e talvez não partilháveis, sobre a forma de música tocada com enorme profundidade e precisão. Talvez seja por isso que não tenha sido muito comum. Quem assistiu deparou-se com a sua própria consciência e estado de espírito, resvalando para o campo do incomum e sendo tocado não só pela música melancólica, agressiva, profunda, calma e bela dos Mogwai, mas também pelo seu espectáculo a nível visual. Focos e tonalidades quer frias, quer quentes iluminavam não só o seu campo de acção, mas também a plateia, existindo alturas em que uma cegueira momentânea assolava a sala, não se distinguindo a realidade do virtual.
1 comentário:
Foi um bom espetaculo!
Friend of the night e bad cat foram os momentos da noite;
em Portugal vai-se fazendo coisas engraçadas,
sugiro:
http://www.youtube.com/watch?v=-66j-JlTr9M&feature=related
e
http://www.youtube.com/watch?v=jbg3a56_qEM&feature=related
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