terça-feira, 26 de maio de 2009
Andrew Bird ou a inspiração do mundano
Tem nome de pássaro, é um facto. E podemos dizer que prima de um sentido de concentração no que o rodeia maior que uma ave de rapina. Foi assim que Andrew Bird entrou pelo Grande Auditório do Cinema S. Jorge, em passos envergonhados,m de fato e esboçando no ar um aceno, descalçando-se e tirando as botas para trás. Começa por gravar como é hábito os vários troços de violino, xilofone, assobios e guitarra no amplificador para usar mais tarde o seu sistema de pedais e reproduzir nas músicas as várias partes, formando assim uma orquestra, quando na verdade apenas se trata de um só único artista. Como cenário há uma grafonola gigante com duas cabeças, que roda nos momentos de interlúdio entre as músicas, assim com oa iluminação se adensa, tornando a atmosfera etérea. Bird veio fazer uma visita a este país que considera tão amigável para apresentar o mais recente álbum "Noble Beast", do qual foram tocadas músicas como "Oh No", "Tenuousness" que refere Lisboa na sua letra, "Fitz & Dizzyspells", o momento segundo ele "mais rock n'roll da noite, que era o tipo de música que ouvíamos quando éramos jovens", "Anonanimal" "Natural Disaster" e "Effigy", que se revelou para mim como o ponto alto da mestria deste senhor de Illinois. Um grande momento aguardado foi "A Nervous Tick Motion of The Head To The Left" do álbum "The Misterious Production of Eggs", de onde também foram interpretadas músicas como "Tables and Chairs", encore do concerto, "Sovay" e "Masterfade". Curiosamente, Andrew não explorou o álbum que até agora lhe valeu mais prémios e fama "Armchair Apocrypha". Dele apenas retirou as instrumentais "The Supine" e "Yawny At The Apocalypse". Contudo, não poderia faltar "Dark Matter", que nos surge numa versão um pouco diferente, entenda-se, misturada com "Sweet Breads", o que segundo o compositor surge de uma semelhança ideológica no sentido das palavras da letra, gerando algo como "Sweet Matter". "The Giant of Illinois", da compilação "Dark Was The Night" também não faltou e sentindo saudades de casa, Andrew resgata "Some of These Days" de "Thrills" (1998). Não poupou o país a elogios, nomeadamente no toca à hospitalidade. Entre palavras inteligentes, tom humorístico e um pouco de embaraço, manteve alguns monólogos com o público, quer para comentar algo que pensava acerca de factos e locais do quotidiano, quer para se desculpar e fazer um juízo autocrítico sobre erros menores que afirmava ter cometido. Foi um óptimo espectáculo. Terá sido inevitável não sorrir perante tal "ave" rara. O espectáculo da coordenação e da complementação dos vários troços que grava em simultaneidade com a música que toca e canta com por vezes 3 instrumentos diferentes, pode afirmar-se: os génios existem, e a sensibilidade pode fazer parte do seu leque de atributos.
"Effigy"
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1 comentário:
Muito bom! Que inveja...
Catarina R.
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