sexta-feira, 28 de agosto de 2009

"Caim", o novo romance de Saramago


Filho primogénito de Adão e Eva segundo o Antigo Testamento da Bíblia, Caim sentiu ciúmes por Deus ter preferido as ofertas feitas pelo irmão mais novo, Abel, e matou-o, cometendo o primeiro homicídio na história da Humanidade.

"Caim" é também o título do recém-acabado romance do nobel da literatura português. Será lançado pela Editorial Caminho na Feira do Livro de Frankfurt em Outubro, estando à venda no final desse mês nas livrarias de Portugal, Espanha e América Latina.
Pilar Del Río escreve n' O Caderno de Saramago, blog da Fundação José Saramago, que "não é um tratado de teologia, nem um ensaio, nem um ajuste de contas: é uma ficção em que Saramago põe à prova a sua capacidade narrativa ao contar, no seu peculiar estilo, uma história de que todos conhecemos a música e alguns fragmentos da letra(...) não recua diante de nada nem procura subterfúgios no momento de abordar o que, durante milénios, em todas as culturas e civilizações foi considerado intocável e não nomeáv".
Isto traz-nos à memória "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", romance do autor que causou muito celeuma e polémica em 1991. A religião e principalmente a Igreja foram autoridades cujas certezas foram seriamente questionadas, existindo inclusivamente o impedimento de concorrer ao Prémio Literário Europeu pelo governo, um dos motivos considerados pelo escritor para o seu exílio em Lanzarote. Assim, Pilar afirma ainda que "com a cabeça alta, que é como há que enfrentar o poder, sem medos nem respeitos excessivos, José Saramago escreveu um livro que não nos vai deixar indiferentes, que provocará nos leitores desconcerto e talvez alguma angústia, porém, amigos, a grande literatura está aí para cravar-se em nós como um punhal na barriga, não para nos adormecer como se estivéssemos num opiário e o mundo fosse pura fantasia".

Deus é um dos personagens da obra, tendo esta como objecto de análise "a divindade e o conjunto de normas e preceitos que os homens estabelecem em torno a essa figura para exigir a si mesmos - ou talvez seria melhor dizer para exigir a outros - uma fé inquebrantável e absoluta, em que tudo se justifica, desde negar-se a si mesmo até à extenuação, ou morrer oferecido em sacrifício, ou matar em nome de Deus(...)Deus, o demónio, o bem, o mal, tudo isso está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventámos. Não nos damos conta que, ao termos inventado Deus, nos tornámos imediatamente escravos dele", ". Este Deus é arbitrário, incoerente e tirano e, embora tenha sido criado pelo homem terá sido responsável de muitos dos seus males.

Um ano após "A Viagem do Elefante", espera-se outra grande obra.

Adaptado de DN

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