sábado, 1 de janeiro de 2011

3 cinemas diferentes

Cela 211



De vez em quando surge um daqueles filmes de acção que nos obriga a pô-lo na mesma fasquia do género dramático. Engenho, choque e suspense compõem o trio de palavras que mais caracteriza Cela 211, o filme do espanhol Daniel Monzón que este ano "arrecadou" oito prémios Goya.
Imagine-se um jovem com namorada grávida que em breve trabalhará como guarda prisional. Imagine-se uma visita deste jovem ao estabelecimento no dia anterior para perceber o seu funcionamento. E imagine-se uma revolta dos prisioneiros, na qual ele é apanhado e forçado a fingir-se um deles. Na verdade a última parte é o veículo de toda a película, já que foi responsabilidade da suma astúcia de Juan Oliver (o jovem), que durante a revolta se vê desmaiado e colocado numa cela. Malamadre, o temido líder do motim, vê-se então confrontado com um corajoso e resistente prisioneiro que a pouco e pouco o persuade e inclina à sua vontade, caindo de tal modo nas suas graças que o protege e aclama como braço direito. Acompanhamos Juan "Calzones" numa luta com as suas emoções e os desconfiados discípulos de Malamadre, ignorando o que se passa lá fora e como se encontra a sua mulher. Tentando negociar, a polícia debate-se ela própria com questões éticas, sócio-económicas e legais.
Cela 211 alimenta-se do terror psicológico e claustrofóbico. Os espanhóis parecem bons nisto, e também no humor, está claro.

O Americano



Anton Corbjin saltou das câmaras fotográficas para as cinematográficas em 2007 com o biopic sobre Ian Curtis, Control. Antes que se especulasse se o filme iria ser a preto e branco como o antecessor, Corbjin esclareceu que iria ser a cores e que a sua estrela iria ser George Clooney. Desenganem-se aqueles que estão à espera de um filme de acção à moda de Hollywood, O Americano insinua-se entre o thriller noir, o suspense e o entourage.
Jack é um espião no final de carreira, mas é quando um trabalho corre mal na Suécia que decide fazer o último dos seus trabalhos. Refugiando-se em Castelvecchio - uma aldeia no interior italiano - Jack constrói uma arma para Mathilde, uma misteriosa espia belga que de súbito surge no seu caminho como última cliente. A solidão e escuridão da aldeia consomem o americano de dia para dia, ao mesmo tempo que o padre da aldeia tenta conhecer os seus tenebrosos segredos. Jack procura consolo e companhia num bordel, onde conhece e se apaixona por Clara. O filme cria precisamente um ambiente de desconfiança entre todos os seus peões, de tal modo que acompanhamos a paranóia de Jack. Os pequenos pormenores que vão permitindo ao espectador construir o puzzle são apresentados em inteligentes sequências e o ambiente claustrofóbico e impessoal é criado em locais escolhidos a dedo, seja a floresta, a calçada da aldeia, a tasca, a casa do padre ou até o bordel.
Para segundo filme, este O Americano está sem dúvida à altura.

Os Miúdos Estão Bem



Um filme de comédia com um leque de bons actores tem sempre duas vias: se o argumento e produção forem bons dá bom resultado, se não, não vale a pena tentar salvá-lo com os bons talentos. A promessa da junção de Annete Bening, Mark Ruffalo e Julianne Moore é só por si indutora de elevada expectativa, mas Lisa Cholodenko não fica por aqui...Os Miúdos Estão Bem usa um trunfo também já utilizado em filmes como A Single Man de Tom Ford, a mostra de uma história de homossexualidade, mas não sobre homossexualidade. O que quer isto dizer? O argumento centra-se num casal lésbico sem contudo fazer disso um tabu, desenvolvendo-se sem condenar a relação a um estatuto de subterfúgio, pena ou heroísmo. Nic e Jules são então apresentadas como um qualquer casal semelhante a todos os outros, possuindo dois filhos, Joni (Mia Wasikowska) e Laser, obtidos através de um banco de esperma. Antes de Joni entrar na universidade, Laser pressiona-a para contactar o pai biológico, que de súbito entra nas suas vidas e colide com os valores familiares até então impostos pelas mães. O pai é quarentão e solteiro, possuindo um restaurante e produção agrícolas próprios, vivendo de um modo bem mais descontraído que por exemplo Nic, uma médica de carreira bem avançada e de família construída.
Atentando na instabilidade familiar, nas paixões e aventuras cruzadas, nas dúvidas de meia-idade e no significado de união, a película é uma agradável comédia meio-indie meio-comercial, que pela sua artificialidade e despropósito acaba por questionar questões bem pertinentes do dia-a-dia do século XXI.
AH, e Wasikowska será certamente uma grande actriz.

1 comentário:

Vanessa disse...

Na semana passada vi o The Kids Are Allright e até gostei! Não sou grande fã de Mark Ruffallo (acho que ele faz sempre as personagens no mesmo registo) mas neste filme até esteve bem! O filme em geral é a típica comédia que vai aos Oscares (género Little Miss Sunshine) que tem situações humoristicas inteligentes mas que acabam por ter um fim um pouco perdido... No entanto, vale a pena ver!