segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Air, Elegância e Sedução
Não só os ingleses são pontuais. Pelos vistos há franceses que também possuem essa característica. Pelas 22.00h em ponto, a dupla JB Dunckel e Nicolas Godin surgem no palco que entre as batidas de "Space Maker", era iluminado pelo logotipo dos AIR à medida que o pano do Coliseu dos Recreios subia. Acolhidos por uma sala esgotada e maioritariamente adulta, a hipnose do duo cujo charme e elegância têm desde sempre cativado o público teve início desde a primeira nota sobre um fundo estrelado de "Do The Joy", faixa-abertura do recente Love 2, motivo desta agradável visita a Lisboa. JB Dunckel mostrou-se competente e confiante diante dos mágicos teclados que compõem na sua maior parte as melodias densas, complexas e únicas do projecto, envergando umas calças e camisa brancas, à semelhança da sua gravata. Já Nicolas, quem mais interagiu com a audiência, quer em francês ou inglês, intercalados por uns humorísticos "Obrigado" no vocoder, mostrou-se descontraído e com a inconfundível postura de baixista experiente. Ajudados pelo baterista de serviço, a dupla transformou a noite no coliseu numa noite mágica. Continuando pelo novo álbum, surge a bela e sedutora "So Light Is Her Footfall", tingida de cores mais quentes que o azul gélido da precedente e dando lugar a "Love", um dos temas mais esotéricos e tropicais do registo. Nesta altura, verde camuflado pintava os personagens, sobrepostos num fundo vermelho. Altura de enveredar pelo maior sucesso Moon Safari, a começar por "Remember", multiplicando-se notoriamente os aplausos e a nostalgia de tempos idos e que estranhamente parecem surgidos do futuro. A única incursão ao seu primeiro álbum "Premiers Symptomes" foi efectuada com "J'ai Dormis sous l'eau", recheada de melodias electrónicas cuja complexidade ao vivo levou o púlico ao espanto. "Venus", a eterna dedicatória de amor dos Air em forma de poema insinuou-se muito bela, bem diante a um gigante planeta Vénus que girava em tons de vermelho ardente. Teve direito a apresentação pela banda e quando os primeiros acordes de guitarra foram ouvidos, um arrepio de alegria percorreu a espinha de pensa-se, qualquer elemento da sala. A dançante "Missing The Light Of The Day" dá de novo uso ao vocoder de Godin. Neste ponto do campeonato, decidiram exibir o seu grande trunfo criativo: "Tropical Disease", talvez a sua composição mais elaborada, progressiva e original, que de certo não deixou os seus seguidores mais fiéis descontentes. O álbum 10.000 Hz Legend fez-se representar primeiro com a frenética "People In The City" que aprovou as capicidades de soletrar, em conjunto com o ambiente hipnótico que criou, "Radian", que reestabeleceu o equilíbio emocional, por entre luzes arroxeadas, que contrastaram com os flashes brancos da música antecessora e ainda a pura "How Does It Make You Feel?", um dos momentos mais nostálgicos e bonitos da sessão. Do álbum Talkie Walkie, chega "Cherry Blossom Girl", a sweet song do grupo, recheada de formas azuladas e espirálicas e que apelou ao coro e a surpresa da noite: "Alpha Beta Gaga". Antes da música, Godin diz "Esta música podem cantar em Francês, Português, o que quiserem" e eis que têm início o assobio e acordes da alegre e divertida faixa. Mesmo assim, o momento em que um maior número de pessoas aclamou a música dos franceses foi "Highschool Lover", parte da banda sonora do filme Suicide Virgins de Sofia Coppola. "Talisman" trouxe de volta a estranheza e singularidade do mundo de Moon Safari É verdade, os Air conseguem ser tão versáteis ao ponto de poderem fazer a performance de música para "dançar e abanar o capacete". Assim aconteceu com "Be a Bee" e estrondosa "Kelly Watch The Stars" a encerrar o concerto. Nesta, um fundo negro com o jogo de ping pong electrónico que preenchia os milhares de consolas pelo mundo fora no passado apareceu e o público, aproveitando a deixa, dançou e movimentou-se de forma contínua e regular. Quando deixaram o palco, as letras AIR surgem de novo, possuindo como fundo o jogo referido. Era hora do encore e três surpresas tinham guardado para os espectadores: "Heaven's Light", "Sexy Boy" e "La Femme d'Argent". A primeira, celestial, abriu a porta para um dos grandes êxitos de Jean-Benôit e Nicolas: "Sexy Boy", entoada com sedução e pujança, que por sua vez, culminou numa fantástica e libertadora "La Femme d'Argent", onde a complexidade da melodia e a originalidade das camadas de teclado e baixo foram demonstradas com profissionalismo, descontracção e absortividade. Por entre padrões de cor e movimento, esta composição excedeu de certo as expectativas, provando que por vezes aquilo que menos se espera seja o que mais surpreenda. O êxtase do público no final foi bem visível e sinceramente a despedida com simpatia, múltiplas vénias e agradecimentos deixou n oar um sentimento: os Air são talvez uma dos casos musicais mais pessoais e com maior influência no indivíduo que os ouve que muitas outras. Podem não dar um espectáculo de estádio mas, a realidade é que a experiência num concerto seu vai para além da música, partindo por uma viagem pessoal, onde as distintas emoções se imiscuem na agradável sensação de conforto e intimismo. Palavras para quê? A classe e elegância do duo e da sua música preenchem a banda sonora de qualquer vida interessante e emocionalmente densa.
Venus
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