segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Entrevista ao Alfaiate - (3/3)



Esta é a última parte. Por fim, só resta agradecer a José Cabral a sua disponibilidade e a oportunidade que deu ao Estado d'Arte para a realização da entrevista.

Foi nos textos onde houve uma maior entrega pela parte da sua pessoa que teve mais feedback do público. O que acha disso? Acredita que as pessoas preferem uma identificação pessoal com o autor?
Primeiro, acho que isto mostra que o blog não é mais um blog de streetfashion. Segundo, fico muito contente porque as fotografias, no limite, qualquer um as pode tirar, melhor ou pior, agora os textos não podiam ter sido escritos por outra pessoa. Da última vez que fiz o texto do meu pai estava a pensar “o que é que as pessoas vão dizer disto?” mas estava muito contente. Da vez da minha irmã era uma coisa tão forte que eu nem estava assim tão contente e depois de publicar o texto ainda fui lá fazer umas pequenas alterações. Acordei dia 23 com aquela ideia, fui buscar aquela fotografia que era recente e pensei em ser publicar o post dia 25 à meia-noite, como uma espécie de presente de Natal para a minha irmã. Se eu for lá hoje há coisas que se calhar alterava, mas é sempre assim, convém sempre deixar um tempo pois não nos apercebemos quando lemos o texto sucessivamente. Mas fico muito feliz, acho que estes textos tornam o blog especial. Acho que vão para além do que a pessoa traz vestido e, acima de tudo, “O Alfaiate Lisboeta” é um blog mais de pessoas do que daquilo que elas possam trazem vestido. Esse é o ponto de partida, podia agarrar nos óculos das pessoas, nos relógios, na cor dos olhos, o que quer que fosse. Aquilo que torna o blog especial é a perspectiva.

Tem patente uma exposição do seu trabalho no Restaurante Windclub em Oeiras. Como está a ser recebida?
Só vou lá hoje mas a proprietária disse-me que as pessoas estão a gostar muito. Podem não ir lá de propósito mas quando vêem as molduras observam com atenção e estão a dar mais feedback do que o normal. Eu não vi aquela exposição como uma oportunidade para divulgar o blog, acho que pode ser divulgado, mas o efeito é capaz de ser mínimo. Acima de tudo foi um convite muito simpático que me deixou muito contente.

Já houve modelos retratados no blog que mais tarde o contactaram, para comentar uma foto ou mesmo para interagir uns com os outros. O que acha sobre o efeito que teve na vida dessas pessoas?
Eu gosto muito que as pessoas me agradeçam uma vez que estou a escrever para essas pessoas. Uma vez fotografei uma amiga, escrevi um post e ela ficou surpreendida e disse “Zé, isso foi um chuto no ego”. Eu ficava contente se fosse isso que acontecesse, dar pequenos chutos no ego às pessoas e às vezes, mal ou bem, tenho essa percepção. Depois há aquele fenómeno “Ah, eu já apareci no alfaiate”, não é nada de especial mas ficam contentes, já apareceram. Primeiro até dizem sim, um bocadinho de pé atrás, e depois ficam contentes “Epá ainda bem que disse que sim”.

Acredita que a simplicidade é o segredo do sucesso? Mesmo no formato do blog, na abordagem das pessoas. Se sim, quer manter a sua publicação no mesmo rumo?
O blog não tem muito ruído do ponto de vista estético. Tem o título, as fotografias, o texto, o link para o Facebook, fundo branco. O blog é simples. Se o sucesso resulta dessa simplicidade? Eu acho que sim. Fotografar pessoas na rua começa por ser um bocadinho excêntrico, eu próprio tive que legitimar esse processo perante mim, mas acho que me sinto mais confortável a fazer isto porque agora já consigo olhar para isso como uma coisa normal. Às vezes oiço uns “nãos” mas também não posso ver um “não” como algo que tenha feito mal. Às vezes as pessoas simplesmente não estão dispostas a ser fotografadas na rua ou são tímidas e depois até dizem que vão visitar o blog. Mas há situações em que as pessoas, por não conhecerem o blog, não aceitam. Ainda no outro dia uma rapariga recusou e à noite tinha um comentário enorme a dizer que tinha sido abordada por mim e tinha recusado, mas estava arrependida, pois se conhecesse o blog teria aceite. Para fazer o blog não era preciso reunir grandes características, eu não tinha máquina fotográfica, nem nenhum curso de fotografia. Lá está o fenómeno da blogosfera, se houver alguém com ideias giras sobre qualquer coisa, não é preciso ser muito experiente para alguém lhe dar valor. Há ano e meio estava cheio de vontade de ter um projecto pessoal, escrevia textos sobre relações entre as pessoas, afectos e outras circunstâncias. Podia acontecer que ninguém viesse a ler, quanto mais publicar aquilo mas eu andava contente, até que alguém disse que eu devia criar um blog e eu achei que o formato não era adequado. Depois quando vi o Sartorialist pensei fazê-lo. Agarrei numa ideia e fui transformando-a à minah imagem. O blog pode vir a mudar de rumo, não sei, mas não na simplicidade. As pessoas vão lá e vêem três posts sem texto e dizem por vezes que sentem falta e fico contente. Isto no início era impensável, as pessoas viam aquilo como o Sartorialist português. Até podia ser um elogio, mas era algo redutor, não apanhava toda a natureza do blog.

2 comentários:

Catarina Rodrigues disse...

A simplicidade é o segredo, sem dúvida. Parabéns aos dois pelo trabalho desenvolvido e pelos bons momentos que oferecem aos leitores. Continuem.

daniela disse...

PARABÉNS!
Foi curioso saber que alguém já recusou e mais tarde, ao conhecer o blog, se arrependeu. Adorei ler :D