quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Rei Édipo é realismo social


fotografia retirada de Diário de Notícias

E Jorge Silva Melo apresenta uma versão de Rei Édipo por si encenada no Teatro D. Maria II. A reconstituição é feita a partir de Sofócles (427 a.C.) e conta com a representação de Diogo Infante. A peça tem carácter interactivo, transformando a sala em Cidade e os espectadores em cidadãos, contribuindo para o efeito com figurinos de homens de Tebas espalhados por todo o lado. Jorge Silva Melo explica então que "A tragédia é pública(...) Não acontece dentro do palácio. Isto não é o drama de um homem que comete incesto, o que torna este drama uma tragédia é o facto de ser vivido na Cidade, connosco.". Decide então apostar numa tragédia de poucas palavras, de sintaxe simples e vocabulário restrito e repetitivo, como na maior parte da população da cidade. Assim, acredita conseguir maior realismo e autenticidade, aproveitando mais de Sófocles e menos da tragédia romântica clássica europeia.


O acompanhamento sonoro fica a cargo de Pedro Carneiro e da Orquestra de Câmara Portuguesa, completando a musicalidade conseguida pela repetição de expressões e ideias. Os efeitos orquestrais, à semelhança dos homens de Tebas e das suas vozes, também vêm de todos os lados na sala para envolver os espectadores, nomeadamente dos camarotes.

Já percebemos que o encenador em como objectivo a proximidade entre a situação real e social vivida na cidade, de modo que a cenografia de Rita Lopes Alves não inclui fatos de época (por exemplo, os homens de Tebas usam suspensórios, coletes, botas). Deste modo somos afectados com o choque de que a tragédia é intemporal, assim como as atitudes deste (anti-)herói, que tanto salva a cidade, como é responsável pela sua decadência.

Outros nomes sonantes constituem o elenco, como Virgílio Castelo no papel de Creonte, Cândido Ferreira como Pastor ou José Neves como Sacerdote. Mais 28 homens entram na peça, mas apenas uma mulher, Lia Gama (Jocasta) participa.

A peça pode ser vista até dia 28 de Março

1 comentário:

António Tavares disse...

Único senão é a música que nos chateia o tempo inteiro, excepto dois brilhantes solos, um de percussão e outro de violoncelo.