quinta-feira, 18 de março de 2010

Beach House ou o refúgio intimista


As portas abrem já atrasadas no Lux Frágil para o concerto dos norte-americanos de Baltimore, Beach House. A fila que já chegava à estação entra apressadamente e num instante preenche o recinto da discoteca. O palco era preenchido com quatro chapéus-de-sol de penas, cuja extremidade seria iluminadas com cores ao longo do espectáculo. Humildes e simpáticos, Victoria Legrand e Alex Scally entram acompanhados do seu baterista de serviço. O mote para aquela noite era Teen Dream, saído ainda fresco em Janeiro passado. Este álbum bem mais inspirado e atmosférico foi responsável pelo intimismo criado durante o show, ajudado em muito pelo pequeno espaço e proximidade. A verdade é que há sítios para estar à hora certa, no lugar certo e ontem isto não foi um acaso. Os primeiros acordes de "Walk in the Park" marcaram o início da progressão hipnótica tão característica do dúo. Deste registo tocaram ainda músicas como a romântica "Better Times", os teclados densos em sequência de Lover of Mine, "Zebra" dedicada aos amantes, o single "Silver Soul", "Norway", que fazia sobrepor a tudo o resto os suspiros andróginos de Victoria, apoveitando esta para referir que nem na própria Noruega aplaudiam tanto e eram tão efusivos, sugerindo em jeito de piada fazer uma canção chamada "Portugal". Used to Be foi interrompida a meio para pedirem ao público que continuasse com o seu clap para a acompanhar, transformando este num dos momentos mais coloridos da noite, com as diferentes luzes a saltar entre os chapéus. De Devotion (2008) apresentaram as composições que os tornaram conhecidos: por um lado a nostálgica Heart of Chambers, uma das quais gerou mais excitação e por outro o sorriso disfarçado de tensão de Gila com alguns dos mais belos acordes encadeados por Scally. O final do concerto foi para grande parte, "o momento". "Take Care" toma conta dos sentimentos num misto de conforto e arrepio, com os sintetizadors simples aumentados e a voz grave de Legrand pronunciando aconchegantemente "I'll take care of you/Take care of you/That's True...", como que a embalar. No final do encore, foi pedido após os múltiplos agradecimentos, que o público os acompanhasse numa viagem ao espaço. Foi isso que aconteceu, a emoção de "10 Mile Stereo" iniciou uma viagem aos alicerces do dream pop, baseada no fluir do compasso e da companhia da voz, acabando numa distorção de guitarra como término. Fantástico.

Beach House não é uma música para ouvir pelo perfeccionismo clássico de composição e diversidade de acordes. É música para ficar embalado e prestar atenção à voz, para sentir principalmente e ser transportado para um mundo por eles criado, onde a saudade dos tempos de adolescência e inocência é revelada, esquartejada e purificada, garantindo em cada sucessão de notas agradavelmente hipnóticas momentos felizes, que só o são por misturarem todas as sensações da nostalgia e remorso à boa-disposição e orgulho. Talvez por isso o ideal seja um espaço intimista como o de ontem, já que algo tão pessoal não se pode perder na partilha, não será verdade?

1 comentário:

daniela disse...

Pelas tuas palavras parece-me que foi mesmo bom. E os chapéus?! Vou ter de ver isso melhor! :D