
A reacção de qualquer espectador são depois de ver a primeira longa-metragem do brasileiro Marcos Jorge é a vontade de vomitar enquanto ainda fascinado pela grandeza do que passou pelos seus olhos. Com uma dupla narrativa sobre o que o título indica, esta espécie de Perfume + Ratatouille misturada com a aspereza a que o bom cinema brasileiro nos habituou abre os braços a excelentes actores e diálogos, onde o humor negro espreita a cada cena. As sensações transmitidas pela presença de comida ao longo da película são tantas que o concelho do realizador é mesmo assistir em jejum. Quando pensamos que ser macabro é exagero, talvez não.
Eu Sou o Amor

Tilda Swinton não é italiana. Luca Guadagnino apenas convidou a galardoada actriz para o seu Io Sono L'Amore. O resultado é uma das suas melhores interpretações, num dos filmes italianos mais originais dos últimos tempos. A estrutura é a da tragédia grega clássica, com todas as suas catarses, crescendos e clímax, contudo, há algo de inovador na forma como nos é apresentado. Não é preciso que haja uma mostra/descrição directa, para que percebamos o que se passa. No fundo, o autor faz-nos pensar e especular o filme todo, tendo o espectador um papel bastante activo. A beleza dos pequenos detalhes, como o focar dos corpos ou dos insectos e natureza, as letras dos locais e cenários idílicos da alta classe milaneza são trunfos que se vêm juntar ao belo elenco. Este é um filme sobre a família, os seus podres e aparências e principalmente sobre a vitalidade e cansaço das relações amorosas e os motivos que levam ao adultério. O confronto entre as emoções das personagens criam uma tensão que à maneira da boa tragédia, deixa os nervos em franja até ao clímax.
Alma Perdida

Sophie Barthes faz algo muito simples: recruta Paul Giamatti para ser Paul Giamatti. O actor em crise aproxima-se da depressão e descobre que almas podem ser retiradas para leveza dos seus proprietários em Nova Iorque. Sem mais delongas, fica sem alma. Toda a fita, filmada segundo a regência do cinema independente, somos deparados com a dicotomia comédia-drama que nos faz questionar a validade da mente e alma no ser humano, assim como o desejo que já todos sentimos de trocar de identidade com alguém. Giamatti chega rapidamente à conclusão de que não será melhor actor nem marido sem as suas preocupações e decide recuperar a sua alma. O problema é que ela foi trocada e estará muito distante. A luta pela identidade própria começa e o personagem é levado por caminhos que nunca antes ousou pisar.
Sem comentários:
Enviar um comentário