sábado, 21 de agosto de 2010

3 cinemas diferentes

Meu Filho, Olha o Que Fizeste!



Herzog é acusado de loucura desde o início da carreira, fama que só tendeu a piorar com o passar dos anos. Tudo seria de desprezar se esta não fosse acompanhada por uma genuína mestria e originalidade na arte das filmagens. Estas são as características de My son, my son what have ye done, macabro, louco, voraz, genial. A bem dizer, bizarro mas de uma forma muito fluente e unitária, não fosse o produtor David Lynch. O argumento parte da história real de Mark Yavorsky, que matou a mãe com um sabre na sua juventude. Aqui o seu personagem é reencarnado por Michael Shannon, retratanto um jovem adulto actor chamado Brad McCullum no seu caminho para a loucura após uma viagem em que foi o único sobrevivente. A namorada de McCullum (Cloë Sevigny) e o seu encenador ajudam na investigação policial conduzida por Willem Dafoe descrevendo as alterações bizarras progressivas de comportamento de Brad, enquanto se tenta convencê-lo a abandonar a casa onde fez dois reféns. O que torna esta película especial nem é propriamente a história, mas sim a densidade noir da atmosfera, a ausência de saturação na imagens e as obcessões do cenário que envolve a personagem principal por flamingos, que criam um ambiente macabro, desconfortável e pulsante...ideal para um crime de matricídio.

Canino



Há filmes que não se esquecem e Kynodontas (no seu título original) prima-se pela negativa. Elogiado pela crítica e elevado pela vitória no Estoril Film Festival, pergunto-me onde foi a coesão da história. A excelente premissa da qual partiu: uma família que manteve os seus filhos em casa até ao estado adulto, criando-lhes uma realidade paralela em que o exterior é um lugar inóspito, é necessário lamber para conseguir algo em troca e ladrar para afugentar os males, o gato é o animal mais feroz da selva, a água se chama sal e a vagina teclado, foi-se perdendo e deteriorando ao longo da película, tornando-se cada vez mais obscena e desconexa e alimentando-se do choque pelo choque sem razão nem nexo. Podemos fazer filmes alternativos e inovadores? Sim! Agora...não convém fazer o espectador desligar-se pela qualidade das cenas começar a roçar a estupidez selvagem. Quando um familiar tem o seu órgão genital lambido em troca de algo, acredito que não seja necessário repetir a cena mais seis vezes e da forma o mais explícita e demorada possível, dado que para ter escolhido este drama causal social como visionamento semanal o espectador é minimamente inteligente e percebe à primeira. O mesmo se passa com as cenas de violência (lembrem-se os famosos leitores de cassete e as próprias VHS como arma de arremesso, criando-se duas cenas desnecessariamente idênticas), de sexo e do latir dos filhos junto à vedação. Sim, Lanthimos é depravado, crú, louco ao limite. O resultado é um filme com um grandíssimo potencial, mas que acaba por se perder em tanta deprimência ao ponto de já não nos lembrarmos de onde partiu. Valha-nos uma das cenas finais da filha a tentar partir o seu dente canino com um peso em frente ao espelho para conseguir ser livre (era esta a promessa dos pais quando este dente caísse) e do final em si, em que esta escapa do carro para o desconhecido.
Este exercício acerca do Homem e da sociedade tranforma-se mais num exercício paralelo de obscenidade e depravação, alimentando-se mais destas que do argumento em si. Mas no final de contas é o realizador quem ganha, ninguém esquece Kynodontas e isso é louvável. Contudo, diferente e chocante só porque sim, não obrigado.

O Escritor Fantasma



Desde O Pianista que não víamos exercício de Polanski tão excitante como este O Escritor Fantasma. Pode ser rotulado de thriller noir ou suspense, mas aquele que lhe assenta melhor é na minha opinião o mistério. Nem por um segundo o espectador deixa de estar preso à intriga que envolve as personagens, à desconfiança entre cada uma e ao perigo iminente que assola o escritor fantasma interpretado por Ewan McGregor. Tudo tem início com a sua contratação por um ex-Primeiro Ministro (Pierce Brosnan) para acabar de escrever as suas memórias. O jovem escritor vê-se envolvido numa tramoia política quando descobre que o seu precedente morreu misteriosamente. É então que Adam Lang (o ex-Primeiro Ministro) é acusado publicamente de envolvimento em crimes de guerra por um colega e o trabalho do escritor passa a tomar proporções mais perigosas do que se poderia esperar. No local onde trabalha (a casa de Lang e da mulher, numa ilha próximo da costa atlântica dos E.U.A.), começa a investigar a morte do anterior escritor fantasma, sendo conduzido a locais e pessoas relacionados com a CIA e o governo e acabando ele próprio por ser um alvo a abater. Enquanto se envolve com a mulher de Lang, descobre a terrível verdade que é a cereja no topo do bolo desta deliciosa película. A cena final, pela sua tragédia e beleza, ficará certamente relembrada no cinema.

Com um ambiente claustrofóbico, um clima pesado e personagens bizarras e misteriosas, O Escritor Fntasma é já para mim um dos (senão "o") filmes do ano. Se alguém conseguir apontar um defeito por favor avise-me, pois eu não consegui.

1 comentário:

Vítor disse...

Depois de ver por engano o Escritor fantasma (do Alan Cuming, que gostei, lol) vi o verdadeiro Ghost Writer. Achei este filme genial, e o final foi tão bom que nem tenho palavras! Continua a deixar boas sugestões :)