You'll Meet a Tall Dark Stranger
Coloco o título em inglês pois este filme foi visionado em circunstâncias relativamente diferentes. A estreia nova iorquina no Lincoln Center merece a dita homenagem.
Woody Allen voltou a Londres (até soa estranho dizê-lo, tão Manhattan que é este senhor) e com ele as histórias intercruzadas e atribuladas de relacionamentos amorosos. A lição a retirar da película é, à semelhança de outras obras - principalmente Cassandra's Dream - a natureza egoísta e gananciosa do ser humano dentro da sua família e círculo social, aliada a um sucumbo carnal. Podia até ser uma história como todas as outras, não fosse o humor negro de Allen dar-lhe um toque refinado. Tudo começa com a separação de Helena (Gemma Jones) e Alfie (Anthony Hopkins). A primeira procura a ajuda de Crystal, uma vidente charlatona, enquanto que o marido engata uma jovem leviana. A filha do casal - Sally (Naomi Watts) - apoia-os nestas suas paranóias, esperando ajuda financeira em troca. No seu trabalho, vê-se envlvida com o seu patrão (Antonio Banderas), um pinga-amor que conquistará alguém mais que Sally...Já Roy (Josh Brolin), encontra-se saturado da sua relação com Sally, apaizonando-se pela sua vizinha da frente, que é comprometida. Cansado de aturar a sogra, amaldiço-a referindo "Everyone meets a tall dark stranger" (a morte)...
Lola
Há filmes bonitos e há filmes extremamente aborrecidos. Lola de Brillante Mendoza é uma mistura dos dois. Filmado em câmara amadora e colhendo os detalhes mais impressionantes de Manilla, é um filme onde o espontâneo da realidade e a contextualização do espaço, quer físico, quer emocional ganha dimensões assustadoras. As tempestades, os arrozais, os barcos pela neblina, todos estes são palco da terrível história à volta da qual gira o filme: o sobrinho de uma velhinha é morto pelo sobrinho de outra. O caso vai para o tribunal de Manilla e uma solução é apresentada. Se a lola (avó) cujo sobrinho foi morto concordar, o assassino é libertado. É então que esta avó tenta convencer a outra à libertação do seu querido, mudando radicalmente a sua vida para vender tudo o que tem e o que não tem e afectando deste modo o resto da família, cujas reacções não são muito aceitáveis. A essência de Lola está aqui, no hiperrealismo de uma mudança brusca de vida e no clima negro que o espaço exerce sobre ela. Como se habitua um idoso à morte de alguém bem mais novo? Como se lida com a culpa? Como se tenta proteger o que é seu, mesmo sabendo que isso é errado? Estas são algumas das perguntas à qual Brillante responde de uma forma bem subtil. A verdade é que é tão subtil que chega a ser aborrecido. Não descurando a sua beleza e intenção, Lola torna-se numa fita extremamente monótona, em que damos por nós a contar o tempo, o que de certo não é agradável. Se bem que na vida real é mesmo assim, a espera por um julgamento é longa e dolorosa. Só não há necessidade de filmar cenas de 10 minutos em que uma das avós atravessa um arrozal com um saco de legumes, por exemplo. Os momentos que salvam este lento avanço sãos em dúvida as alturas em que a caça e a brincadeira tomam conta dos personagens filipinos na tela, quais explosões de alegria acompanhadas por uma agradável banda sonora e que a eles, tal como a nós, fazem esquecer a triste realidade de terceiro mundo em que as personagens estão inseridas.
Embargo
Vamos ser breves: Embargo era talvez dos contos de Saramago que não necessitava de tradução no grande ecrã. Mesmo assim, e contrariando esta premissa, António Ferreira faz uma longa-metragem de 85 minutos nele baseada. Nos instantes iniciais apercebemo-nos do cuidado estético que António exigiu ser feito no tratamento de imagem e fotografia, algo entre o sepia e o moderno...bem próximo da intenção de esgotamento de recursos naturais (principalmente combustíveis fósseis) e desertificação presente no conto. Neste contexto, Nuno é um homem que vende bifanas numa roulotte e que quer mudar a sua vida, tentando a todo o custo vender uma máquina que...mede pés. É verdade, a sua inutilidade fá-la ser recusada por todas as empresas e potenciais compradores mas a preserverança de Nuno fá-lo dizer à mulher e filha que esperem e que "no dia seguinte" venderá a máquina. Até que no dia da possível venda do aparelho, Nuno fica preso dentro do seu carro sem conseguir sair de maneira alguma, por qualquer magia estranha e inexplicável. É aqui que a metáfora pode tomar proporções que traduzidas em cinema e mal aproveitadas tornam momentos da história algo desnecessários e até aparentemente ridículos. Tem que haver a consciência de que raros são os cineastas que brincam tão bem com imagens como Saramago com as palavras e que isto pode ser o início da perda da intenção original da sua obra, que não é de certo entreter.
Ainda assim, Embargo oferece bons momentos, em que se conseguem perceber as entrelinhas do Nobel: a dificuldade de fazer sucesso com uma ideia e a frustração de ter algo inevitável que impede uma réstia de esperança nela, de tal modo que nos pode levar à loucura. Mas é o poder da beleza visual e a lógica artística que salvam a película de António Ferreira, já que poucos são os filmes portugueses em que a imagem é cuidada, os zooms e ângulos, assim como as cenas e sua relação/encadeamento.
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