Nova Iorque é aquele tipo de cidade que muitas vezes não precisa ser descoberta. É pouco brilhante terminar a frase com "é ela que nos descobre", mas acabamos por ser tão absorvidos, que nos surpreendemos sem que nada se procure.
Foi numa noite de semana em que a vontade de ficar em casa não venceu a de aproveitar as últimas noites amenas do ano, que parti em busca de um qualquer café ou bar simpático que havia visto durante as tardes passadas em Spring e Prince Street. A vida nocturna do SoHo, principalmente durante a semana, ficou bastante afectada desde que o Meatpacking District se tornou no
hot spot da nightlife de Manhattan. Não significa que curiosos estabelecimentos sejam passíveis de existência esquina sim esquina sim, mas na procura do local ideal é bem mais difícil se este não estiver bem assinalado com uma multidão na rua. Num inesperado momento, com grande parte da rua apagada, uma pequena montra de luz dourada sobressai no negro da cidade pós-laboral. Aproximo-me e o letreiro é bem explícito e convidativo:
The Best Chocolate Cake In The World. Os mais atentos sabem que esta marca teve origem em Campo de Ourique e desde há alguns anos se tornou num marco lisboeta, juntando a irreverência ao profissionalismo dela derivado. Uma espécie de Mourinho dos bolos de chocolate, digamos assim. Na realidade a pastelaria teve tanto sucesso que foi fundado um pequeno franchising por algumas cidades mundiais, das quais Nova Iorque não foi excepção. Embora não partilhe totalmente da receita original (é mais consistente e talvez com menos merengue de chocolate), este pequeno estabelecimento transpirava Portugal por todas as aberturas. Desde a madeira com talha dourada em imitação de moldura aos candeeiros e tipografia típica, apenas as jovens empregadas americanas escapavam. Sabia da sua existência desde que li
isto e projectei uma visita antes da viagem, que mais tarde acabaria por esquecer. A atracção pelo reduzido espaço e luz acolhedora, aliados ao imediato sorriso que o letreiro me arrancou fizeram-me sentir na obrigação de dizer que era português, inflamado por um qualquer orgulho patriótico que nunca se me conhecera. A empregada pediu desculpa pelo desconhecimento dessa estranha e difícil língua europeia e falámos em inglês. A hora de encerramento estava próxima e foram-me servidas pequenas sobras do último bolo em forma de cookies com um belo sumo natural de mirtilos. Lá fora, os transeuntes paravam e tal como eu antes, eram atraídos pelo reflexo dourado, sem contudo ter "coragem" para entrar. Afinal de contas, há que estar preparado para o que o nome propõe.
Voltaria mais vezes para lanchar, a conta servida num copo de madeira era promessa de uma próxima vez. A morada agradava-me, e estranhamente sentia-me em casa.
55A Spring Street
New York, NY 10012, United States