sábado, 27 de outubro de 2007

A Outra Margem


Estreou na quinta o novo filme de Luís Filipe Rocha, "A Outra Margem", título explicado na entrevista seguinte, mas que é entendido a partir do momento em que as personagens são um rapaz com Trissomia 21 e um travesti.

"Um travesti que perdeu o gosto pela vida é confrontado pela alegria de viver de um adolescente com Síndroma de Down."

""Frequentemente nós colocamo-nos numa margem que entendemos que é a margem correcta, e excluímos os outros para a outra margem, onde nós achamos que estão os seres humanos incorrectos". As palavras de Luís Filipe Rocha explicam o nome do filme. "A outra margem" foi o lugar escolhido para um encontro improvável entre um travesti e um jovem com trissomia 21.

Ricardo fugiu de Amarante no dia do casamento. Em Lisboa descobriu uma nova orientação sexual e tornou-se Vanessa Blue. Depois do suicídio do namorado, perde a vontade de viver. Para interpretar a personagem, o actor Filipe Duarte contou com a colaboração de Fernando Santos, um travesti profissional de Lisboa, também conhecido por Débora Cristal.

"Trabalhámos durante um mês e meio para que eu, na altura que estivesse a filmar, não tivesse de pensar 'agora vou pôr a mão assim'. Queria uma coisa que saísse naturalmente", explicou Filipe Duarte, que, graças ao papel, foi considerado "Melhor Actor" no Festival de Montreal, no Canadá. Um prémio partilhado com Tomás Almeida. que no filme é Vasco, um jovem com trissomia 21 e sobrinho de Ricardo.

O encontro entre as duas personagens dá-se quando Ricardo regressa a Amarante. A alegria de viver de Vasco é uma lição para o tio.

"A vantagem de trabalhar com o Tomás é que ele oferece uma contracena pura. No dia em que nos conhecemos e em que começamos a ensaiar, disseram-lhe: 'Este vai ser o teu tio'. E a partir daí chamou-me sempre de tio", acrescentou Filipe Duarte.

Tomás Almeida é actor do Grupo de Teatro Crinabel (Cooperativa de Educação de Crianças Inadaptadas de Sta. Isabel), mas é na longa-metragem de Luís Filipe Rocha que faz a diferença.

O realizador explicou como a personagem influenciou a fotografia do filme. "À medida que o Vasco, com a sua energia, com a sua alegria de viver, vai tomando conta da relação com o Ricardo, a cor do filme sai do frio (cinzento) e vai entrando muito subtilmente no dourado, até estoirar numa sequência dourada que é a sequência final".
Um trabalho decidido em conjunto por Luís Filipe Rocha e o director de fotografia, Edgar Moura. "Como nós rodámos em 16 milímetros e depois passámos a cópia para 35mm electronicamente, foi possível fazer aquilo que se chama a 'etalonagem', ou seja, o acerto das cores e alteração do contraste", acrescentou o realizador, que também escreveu também o guião.

"A outra margem" não é necessariamente um filme sobre o preconceito. Luís Filipe Rocha quis contar uma boa história sobre a eterna questão da "anormalidade", sem veicular mensagens de carácter moral ou social."

Fonte: SIC

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