Nas horas anteriores, o recinto em redor do Pavilhão Atlântico inundava-se com uma multidão de gente de todas as faixas etárias e géneros. O objectivo era único: ver a actuação dos britânicos Muse e de preferência num lugar bom. Às 18:30h em ponto as portas abrem e o pavilhão é invadido. Numa abertura pelos Biffy Clyro, os espectadores aumentavam o seu nível de ansiedade e eis que 15 minutos após a hora marcada, tem início o espectáculo. Três plataformas gigantes, presentes desde o início, começavam a iluminar-se. Estas simbolizavam arranha-céus, em que as janelas começavam a ser iluminadas e um som de fundo sintetizado preenchia a atmosfera, erando ainda mais ânsia. Quando todas as janelas de iluminaram, vultos brancos igualmente luminosos começaram a subir e descer as escadas, até que começam a cair e puf!, o pano das colunas cai e no meio surgem os três músicos da noite, cada um numa delas. O primeiro single do novo
The Resistance, "
Uprising" começa a ecoar pela sala, enquanto que a histeria geral aumenta, simultaneamente com o canto. Nas colunas agora iluminadas de vermelho, são visíveis na parte superior os vídeos dos Muse enquanto tocam, sendo que na média surge o referão e na inferior uma marcha de vultos negros que protestam contra algum regime totalitário. Matthew Bellamy atira os seus óculos azul florescente para a multidão e o alinhamento segue pelo álbum, sendo tempo de "
Resistance", cuja introdução soa mais bela que nunca. Nas colunas são projectadas primeiramente as imagens de um qualquer engenho metálico, seguindo-se um texto em código informático em conjunto com projecção dos vídeos do espectáculo em negativo, intercalados com imagens de DNA e modelos humanos em rotação. As pessoas aproveitam qualquer segundo para se exprimir, fosse a cantar as letras ou a entoar o som do instrumental. Este aspecto manteve-se por todo o espectáculo. Nas plataformas surgem dezenas de olhos gigantes a piscar na escuridão, iniciando-se a velha "
New Born" de
Origin Of Simmetry e começando as plataformas a descer, até que ao nível do palco, os riffs da guitarra começam a brotar, enquanto que um espectáculo de lasers verdes preenche o recinto, hipnotizando qualquer sobrevivente. Após uma conclusão do tema onde solos se fizeram ouvir a bom som, o trio envereda pelo penúltimo
Black Holes and Revelations ao som da apocalíptica "
Map of the Problematique", que termina igualmente com Bellamy a solar a grande rigor, o que se pôde verificar em grande plano na coluna central. O Pavilhão Atlântico entra em êxtase com a demoníaca "
Supermassive Black Hole", deslocando-se o vocalista para uma varanda lateral, mais próxima dos espectadores. Voltando aos temas novos, os Muse apresentam "
MK Ultra" em tons de vermelho, à qual se segue um dos pontos altos da noite: "
Hysteria" de
Absolution. Começa com uma introdução anestesiante em feedback e culmina na música em si, onde o cenário se enche de holofotes e as colunas voltam a representar prédios, desta vez a ruir e em tons de encarnado. As palavras de ordem tornam-se uno pelos milhares de pessoas: "
'cause I want it now/I want it now/give me your heart and your soul/and I'm breaking out/I'm breaking out/last chance to lose control". Um interlúdio mais suave e intimista, com diversas fotografias de várias personalidades a serem sobrepostas nas colunas que no final formam o logotipo da banda, precede a arabesca e bizarra "
United States of Eurasia", mais um dos grandes momentos da noite, em que as plataformas ascendem de novo e as colunas se preenchem com um planisfério em que a Europa e Ásia se encontram unidas, como no império imaginário dos Muse, enquanto uma luz piscante mostra EURASIA. O piano iluminado em neon de Bellamy é aproveitado para "
Feeling Good", rescíquio de
Origin of Simmetry que se seguiu. A versão da música de Nina Simone foi entoada com imagens paisagística de calma, sendo inevitável o momento em que o vocalista agarra num altifalante e reproduz uma estrofe. "
Guiding Light" soa pulsante e azulada, enquanto a antenção é redobrada perante tal maravilha. É a este ponto do espectáculo que não se acreditava poder tornar-se melhor, mas eis que Chris e Dominic começam a ser elevados na plataforma giratória central da percussão, dando a conhecer o "
Helsinki Jam" de baixo e bateria e mostrando que nem só da genialidade de Matthew Bellamy vive a banda. O actual single "
Undisclosed Desires" tem direito a cenário de acordo com a sua estética dançável, verificando-se aros concentricos que piscam em torno das colunas em cor violeta, lasers verdes e no refrão, pontos azuis e verdes que iluminam a parte traseira da sala. Até ao final do concerto a multidão estaria em êxtase. Primeiro com "
Starlight", talvez o tema mais conhecido, tendo ele inteiro direito a um coro mais forte que o habitual. As colunas iluminaram-se com o padrão do motivo do último álbum, que nas partes mais agitadas começava a girar. Com um forte aplauso, surgiu "
Plug In Baby", com balões gigantes e brancos a ser atirados à audiência, regada de conffeti. "
Time Is Running Out", que tornou a banda mais mediática, foi tocada com o video de um homem que prestes a asfixiar no oceano, gerando pulos e a adrenalina necessária para a nova e progressiva "
Unnatural Selection", em que se faziam ouvir os desejados "
Hey"'s incitados pelos elementos do grupo. A saída dos elementos do palco foi ovada a alto e bom som e estes regressam minutos depois para o encore, que tem princípio com a
Overture da sequência "
Exogenesis", subindo as plataformas como na ascensão e êxodo dos seres humanos do seu globo, brilhando nas colunas abstractos traços supersónicos e estrelados. Segue-se a celebrada "
Stockolm Syndrome", que abre caminho para o grande final: um foco de luz ilumina Chris enquanto este faz a performance em harmónica de "
The Man With The Harmonica", culminando na excitante e cavalgante "
Knights of Cydonia", em que entre coros, cantos, riffs e sintetizadores, surgem de novo os prédios e as letras do refrão a passar na diagonal, acabando tudo em pulos e jactos de fumo, à boa maneira dos Muse. Dominic Howard profere então as palavras que todos desejam ouvir: "
Thank you Portugal, see you next year!"
Após um dos melhores espectáculos até agora no país, resta-nos reforçar a teoria que ainda há lendas do rock, e bem vivas.
Intro + Uprising