quinta-feira, 8 de abril de 2010
Filmes pequenos, grandes histórias
Com incapacidade de me deslocar ao cinema na última semana, só ontem vi a nova película de Sam Mendes, por mim aguardada desde há muito. Antes de mais, uma pequena dedicatória ao realizador/produtor: o primeiro filme em cinema de Mendes deixou-me completamente rendido. Falo do oscarizado American Beauty, que muito teve também do produtor Allan Ball, surgindo como um dos trabalhos de equipa mais bem conseguidos do novo cinema americano. Se em 1999 American Beauty era uma representação fidedigna da sociedade suburbana dos E.U.A., hoje continua a sê-lo. Assim é a marca de Mendes: fazer filmes de pessoas, para pessoas e em situações do nosso tempo que teimam em manter-se actuais. Tudo podia ser um cliché, não fossem os seus diálogos especiais. A capacidade criativa que o britânico tem de levar os mais genuinamente cómicos ou dramáticos diálogos à boca de improváveis e impressionantes actores marca pontos no que quer que ele faça mas desde o Oscar que não o víamos fazer um filme como este Away We Go. Pelos vistos a comédia negra e dramática é mesmo a sua praia. Se antes víamos um pai de família em plena crise de meia-idade, hoje vemos um casal bem jovem que fica "grávido" e procura um sítio para viver na América do Norte onde tenham alguns contactos. É esta a verdade, Burt e Verona (interpretados por John Krasinski e Maya Rudolph) não têm ninguém, estão sozinhos e ignorados pelos pais dele (os dela faleceram), sendo o seu objectivo que a filha cresça num meio onde possam contar com apenas alguém. Posto isto, fazem uma lista de sítios a visitar para seleccionarem um para viver, embarcando numa viagem que tem tanto de nacionalista como de anti-nacionalista, sendo aqui que entra a crítica satírica do autor. Nesta deambulação encontram as mais bizarras personagens que conferem ininterruptos momentos de humor, elevando até o disfuncional casal a uma posição bastante empática. Mas não é só de comédia directa que o filme vive, alimenta-se sobretudo dos subtis e doces momentos, humorísticos ou não (que diga-se, o facto de não terem absolutamente dose alguma de enjoo é uma proeza notável para uma comédia romântica nos dias que correm) que nos fazem lembrar ser humanos e mais do que isso, seres assustados com a paternidade e com o mundo que vemos para nós e aqueles que amamos. Não poderíamos exigir mais dos actores, li na Time Out desta semana uma frase (não aplicada a este filme) em que constava "no filme as personagens metem genuinamente piada e isso muda tudo" e é verdade... por muito bom que seja o guião, os actores só por si metem piada e isso é meio caminho andado. Do ponto de vista técnico o filme faz sorrir os olhos e ouvidos com músicas na sua maior parte acústicas e planos que são na maior parte uma, duas ou mais faces em conversa, captando muitas das maravilhas naturais mas sem lhes dar extrema importância, sendo que o argumento é dividido na imagem em capítulos, separados por títulos.
No final fica um sorriso e apesar de tantas gargalhadas e momentos em que o coração aperta durante a fita, é tão melhor quando nesta altura ele é espontâneo e ouvimos a unanimidade do público em comentários tão simples como "é mesmo giro o filme"!
Subescrevo, é mesmo giro!
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