segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quando o homem comum é protagonista



Não é segredo para ninguém que os National são a minha banda favorita. Podia fazer conversa de circunstância "ah e tal mas ainda há outras bandas que gosto tanto como esta, bla bla", mas a verdade é que fazendo uma análise, reunem todas as condições para conquistar este lugar: letras excepcionais, composições instrumentais lindíssimas e muitíssimo elaboradas, intervenção social, catarse, membros com carácter, grande design nos trabalhos em CD/DVD/vinil e concertos incríveis. Espero não enjoar com tanta bajulação, mas em 3 anos ainda não lhes prestei um ode como deve ser. Porquê agora então? Há quase um mês saiu para as lojas o aguardaddo 5º álbum High Violet, que veio provar o que já se desconfiava: a banda de Brooklin não faz merda mesmo quando se possa esperar. O sucesso avassalador de Boxer, que esgotou concertos em salas mundiais de média dimensão sem conta e preencheu cartazes de festivais era, como habitualmente no mundo da música, um prenúncio de uma expectativa mais baixa para o seu trabalho seguinte (isto porque era bastante difícil superar Boxer). O engano era tão redondo quanto uma bola de futebol, afinal e contas já devíamos ter aprendido a lição quando Boxer não ficou atrás de Aligator: High Violet não só não ficou atrás de Boxer como elevou a banda a um outro patamar, isto, algures entre a fusão de algo novo com o melhor dos dois álbuns anteriores. Onde antes se ouviam belas canções impenetráveis e intimistas sobre um mundo emocional mas metaforicamente desejável, agora ouvem-se canções mais directas sobre o acordar para a realidade, que não deixam por isso de ter a complexa criatividade lírica do vocalista Matt Berninger. O processo de gravação dos álbuns dos National é muito peculiar e é por isso que talvez as coisas saiam tao bem...uma reunião de meses na sua casa-estúdio onde após tantas hipóteses as discussões são mais que muitas, voltando-se muita vez à ideia original. Assim é por exemplo com a introdução de High Violet "Terrible Love", em que após cerca de 80 samples, se regressou ao som distorcido e caseiro de uma das primeiras. O álbum é mais progressivo instrumentalmente do que os seus antecessores, muito pela ajuda de instrumentos como o harmonium, trompas, violinos, coros (onde se contam colaborações como a de Sufjan Stevens) e secções de metais. As emoções passadas pelas letras de Berninger são mais que muitas, desde a impotência amorosa e debilidade das relações ("Terrible Love", "Anyone's Ghost", "Conversation 16", "Runaway", "Vanderlyle Crybaby Geeks"), ao medo de ser pai (Afraid of Everyone), às (não-)saudades de casa ("Bloodbuzz, Ohio"), às pequenas irritações familiares ("Lemonworld"), aos desgostos marcados pela juventude passada ("Sorrow"), à ira ("Little Faith") ou ao guilty pleasure ("England"). O álbum é muito consistente e cria vício, sendo este o fenómeno que a pouco e pouco permite a descoberta de novos pormenores em cada música. A banda cresceu e as suas convicções também. Os versos podem aparentar ser algo double-meaning, mas há sempre uma verdade escondida que tanto nos reconforta com chicoteia. Mais uma vez encontramos nas composições tanto a doçura como a acidez, vinda da voz de Matt, que aliada aos ritmos complexos da bateria de Bryan Devendhorf e à fluidez quase subaquática das cordas dos irmãos Dessner torna o seu estilo incontronável.

Poderia analisar detalhadamente cada canção, mas para ser sincero, para quê? Teria que escrever um texto ainda maior do que este e não transmitiria nem um terço do que significam. A arte de transformar poemas em músicas não está no poder de qualquer um e tal como na literatura, a interpretação demora o seu tempo e é muito variável...

Ao vivo têm-se apresentado elegantemente vestidos, com uma tela e holofotes monocromáticos. A transmissão do concerto para a Red Hot no Youtube foi um sucesso e provou que High Violet é deveras eficiente quando tocado. Resta-nos esperar pelo seu concerto de apresentação e pelo momento em que as pessoas comuns (público dos National) se sentem heróis de uma ficção.

Aqui fica uma amostra:

2 comentários:

João disse...

Grande crítica... Subscrevo-a totalmente!

João disse...

Grande crítica... Subscrevo-a totalmente!