quarta-feira, 26 de maio de 2010

The XX, mais que um símbolo



Aparentam ser apenas três jovens. São mais que isso, pelo menos o que fazem é mais que isso. Com idades a rondar os vinte, Romy Madley Croft, Oliver Sim e Jamie Smith são elevados a um estatuto entre os melómanos musicais que nunca podiam ter sonhado imaginar. O segredo é o das músicas minimalistas, cadenciadas, cantadas em dueto e com temas que vão do desgosto ao conforto relacional e amoroso (de uma forma tão adulta que não acusa em nenhum momento as suas idades). Entre todos estes aspectos, faltava saber como seria ver os 3 jovens ingleses ao vivo. A palavra "surpreendente" deve ter passado pela maior parte das mentes observadoras na esgotada Aula Magna de ontem. Para um espectáculo de uma hora (o reportório não podia esticar mais), foi tão variado como fiel a si próprio. Tudo começa com o tapar do palco com um enorme tecido branco. A introdução do álbum converte-se em introdução do concerto e as cordas e electrónicas ecoam pelo auditório enquanto um enorme X se ilumina no seu centro, dando lugar a projecções das sombras de Romy, Oliver e Jamie. O pano cai e as figuras elegantemente vestidas de preto surgem frente à mesa de misturas e percussão que consiste numa caixa negra com um X em cada face. Mas não se enganem, não foi só este o bom gosto no cenário. A face de Romy e Oliver era iluminada cada vez que eles cantavam e as luzes mudavam sincronizadamente com as batidas e certos acordes da combinação baixo-guitarra ou guitarra-guitarra. Em certas melodias, ondas de luz com formas aquáticas iluminavam o tecto e no encore, com "Stars", o fundo enche-se de pontos iluminados tal qual estrelas. Quanto à música, melhor seria impossível, versões alargadas e modificadas de belas composições como "Heart Skipped A Beat", "Islands", "Teardrops", "Night Time" e para mim o ponto alto da noite: "Shelter". "Do You Mind" teve até direito a tímbalos sonantes e "Basic Space" a uma versão mais livre. A distorção inebriante de "Fantasy" varreu a sala por entre a bela voz de Oliver a declamar os curtos versos da sua letra. Foi possível comprovar a excelente coesão no conteúdo e forma do álbum, já que mesmo com ordem trocada, as músicas se conseguiam continuar naturalmente umas nas outras.

Podiam ser apenas mais um caso de súbito sucesso, que tanto agrada a ouvintes do indie como da pop mais berrante ou heavy-rock mais pesado, mas a verdade é que são verdadeiros artistas, a quem está por certo assegurado um lugar priveligiado no mundo da música caso nada aconteça de errado. Humildade, ambição saudável, composições demasiado belas e simples, racionalidade na escolha do tipo de espectáculo e design gráfico. O que se pode querer mais? Absolutamente nada.



















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