terça-feira, 31 de agosto de 2010

Interpol - Barricade

A segunda aventura pelos telediscos no novo álbum dos Interpol é assinada por Moh Azima.

jazz.pt


Aproxima-se a 3ª edição do festival organizado pela revista jazz.pt. Devido ao recente incêncio do Hot Club Portugal, o evento muda-se este ano para os espaços de lazer do Cais da Pedra (Lux, Flur, Csanova, Odessa, DeliDelux, etc) por forma a chegar a um público sem preconceitos. Tem principal objectivo a realização de oito concertos e oito lançamentos discográficos de artistas portugueses e estrangeiros, contando portanto com a participação de editoras provenientes de França (Quark Records), Itália (El Gallo Rojo), Suécia (Moserobie) e as nacionais Clean Feed e JACC Records.

Para além dos concertos e lançamentos, existe um programa paralelo onde constam por exemplo uma exposição de fotografia e uma feira de discos e ações didáticas nos vários espaços referidos.

Começa já no próximo dia 8 de Setembro com o trio alemão Grunen, estendendo a sua programção até dia 12.

Para consultar programa, visitar site oficial

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

sábado, 21 de agosto de 2010

3 cinemas diferentes

Meu Filho, Olha o Que Fizeste!



Herzog é acusado de loucura desde o início da carreira, fama que só tendeu a piorar com o passar dos anos. Tudo seria de desprezar se esta não fosse acompanhada por uma genuína mestria e originalidade na arte das filmagens. Estas são as características de My son, my son what have ye done, macabro, louco, voraz, genial. A bem dizer, bizarro mas de uma forma muito fluente e unitária, não fosse o produtor David Lynch. O argumento parte da história real de Mark Yavorsky, que matou a mãe com um sabre na sua juventude. Aqui o seu personagem é reencarnado por Michael Shannon, retratanto um jovem adulto actor chamado Brad McCullum no seu caminho para a loucura após uma viagem em que foi o único sobrevivente. A namorada de McCullum (Cloë Sevigny) e o seu encenador ajudam na investigação policial conduzida por Willem Dafoe descrevendo as alterações bizarras progressivas de comportamento de Brad, enquanto se tenta convencê-lo a abandonar a casa onde fez dois reféns. O que torna esta película especial nem é propriamente a história, mas sim a densidade noir da atmosfera, a ausência de saturação na imagens e as obcessões do cenário que envolve a personagem principal por flamingos, que criam um ambiente macabro, desconfortável e pulsante...ideal para um crime de matricídio.

Canino



Há filmes que não se esquecem e Kynodontas (no seu título original) prima-se pela negativa. Elogiado pela crítica e elevado pela vitória no Estoril Film Festival, pergunto-me onde foi a coesão da história. A excelente premissa da qual partiu: uma família que manteve os seus filhos em casa até ao estado adulto, criando-lhes uma realidade paralela em que o exterior é um lugar inóspito, é necessário lamber para conseguir algo em troca e ladrar para afugentar os males, o gato é o animal mais feroz da selva, a água se chama sal e a vagina teclado, foi-se perdendo e deteriorando ao longo da película, tornando-se cada vez mais obscena e desconexa e alimentando-se do choque pelo choque sem razão nem nexo. Podemos fazer filmes alternativos e inovadores? Sim! Agora...não convém fazer o espectador desligar-se pela qualidade das cenas começar a roçar a estupidez selvagem. Quando um familiar tem o seu órgão genital lambido em troca de algo, acredito que não seja necessário repetir a cena mais seis vezes e da forma o mais explícita e demorada possível, dado que para ter escolhido este drama causal social como visionamento semanal o espectador é minimamente inteligente e percebe à primeira. O mesmo se passa com as cenas de violência (lembrem-se os famosos leitores de cassete e as próprias VHS como arma de arremesso, criando-se duas cenas desnecessariamente idênticas), de sexo e do latir dos filhos junto à vedação. Sim, Lanthimos é depravado, crú, louco ao limite. O resultado é um filme com um grandíssimo potencial, mas que acaba por se perder em tanta deprimência ao ponto de já não nos lembrarmos de onde partiu. Valha-nos uma das cenas finais da filha a tentar partir o seu dente canino com um peso em frente ao espelho para conseguir ser livre (era esta a promessa dos pais quando este dente caísse) e do final em si, em que esta escapa do carro para o desconhecido.
Este exercício acerca do Homem e da sociedade tranforma-se mais num exercício paralelo de obscenidade e depravação, alimentando-se mais destas que do argumento em si. Mas no final de contas é o realizador quem ganha, ninguém esquece Kynodontas e isso é louvável. Contudo, diferente e chocante só porque sim, não obrigado.

O Escritor Fantasma



Desde O Pianista que não víamos exercício de Polanski tão excitante como este O Escritor Fantasma. Pode ser rotulado de thriller noir ou suspense, mas aquele que lhe assenta melhor é na minha opinião o mistério. Nem por um segundo o espectador deixa de estar preso à intriga que envolve as personagens, à desconfiança entre cada uma e ao perigo iminente que assola o escritor fantasma interpretado por Ewan McGregor. Tudo tem início com a sua contratação por um ex-Primeiro Ministro (Pierce Brosnan) para acabar de escrever as suas memórias. O jovem escritor vê-se envolvido numa tramoia política quando descobre que o seu precedente morreu misteriosamente. É então que Adam Lang (o ex-Primeiro Ministro) é acusado publicamente de envolvimento em crimes de guerra por um colega e o trabalho do escritor passa a tomar proporções mais perigosas do que se poderia esperar. No local onde trabalha (a casa de Lang e da mulher, numa ilha próximo da costa atlântica dos E.U.A.), começa a investigar a morte do anterior escritor fantasma, sendo conduzido a locais e pessoas relacionados com a CIA e o governo e acabando ele próprio por ser um alvo a abater. Enquanto se envolve com a mulher de Lang, descobre a terrível verdade que é a cereja no topo do bolo desta deliciosa película. A cena final, pela sua tragédia e beleza, ficará certamente relembrada no cinema.

Com um ambiente claustrofóbico, um clima pesado e personagens bizarras e misteriosas, O Escritor Fntasma é já para mim um dos (senão "o") filmes do ano. Se alguém conseguir apontar um defeito por favor avise-me, pois eu não consegui.

Espaço B

Leonor Barata é conhecida por trazer o bom gosto à cidade de Lisboa sem entrar em preços demasiado exorbitantes (ligeira redundância). Fê-lo já com a Arquitectónica, no mobiliário e decoração de interiores e com o Emporio Bazar, que tal como o nome indica incide sobre vários tipos de produtos. Desta vez o nome do estabelecimento é Espaço B e situa-se em pleno Príncipe Real, passando a mais que uma loja de roupa. Aqui encontram-se peças inovadoras/alternativas/diferentes, como se lhe queira chamar, misturadas com CDs, livros de moda e design, peças de joalharia, perfumes, entre outros.

A premissa é preencher uma lacuna na originalidade do vestuário à qual os portugueses estão confortavelmente habituados, nomeadamente o masculino. Deste modo são apresentadas marcas como Kris Van Assche, Timex, Comme des Garçons, Fred Perry ou Marc Jacobs que competem com outras bastante constantes nos franchisings de centros comerciais com o mesmo preço e produção em massa.

Jónsi - Animal Arithmetic

Realizado por Dean Deblois, este é o segundo trabalho de Go adaptado a vídeo. Surge-nos como um hino à alegria e aos pequenos momentos que, a seu jeito peculiar, nos ficam na memória.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

E os Arcade Fire trazem-nos a sua (outra) obra-prima



Começar por dizer que este é o trabalho mais fraco dos Arcade Fire é cair no erro de se deixar levar pela superficialidade do som e desligar-se do conteúdo. É verdade que começaram por nos supreender com a multi-intrumentalidade de Funeral e com a epopeia de Neon Bible. Mas repetir cada uma destas façanhas não seria dar-se um pouco à perda da originalidade? Seguem então por um caminho diferente, opção que no seu e no caso de tantas bandas é um benefício. The Suburbs é o trabalho mais longo do colectivo/família canadiana: 16 músicas em modo progressivo e simples sobre a vida nos subúrbios durante a infância. Insurgindo-me em barreira à opinião geral da crítica, acho que este é talvez o álbum mais consistente de Butler, Régine e companhia. Porquê? Sabemos que os Arcade Fire são uma banda-conceito que faz álbuns-conceito e, hoje em dia, talvez o faça melhor que ninguém. Em aproximadamente seis anos de experiência e com um estúdio-igreja comprado, conseguem seguir um raciocínio metade espontâneo, metade lógico que lhes permite seguir um caminho com princípio, meio e fim (tanto sonoramente como a nível de conteúdo lírico). Note-se que tal como a vida nos subúrbios, o álbum começa e acaba do mesmo modo (ambas as faixas detêm o título do álbum). A primeira é uma elegante narrativa cantada e tocada em guitarra e piano sobre a vida mascarada e o desejo do sonho americano comum a quase todos os habitantes, que evitam a todo o custo as experiências fora de um circuito fechado social "Sometimes I can't believe it, I'm moving past a feeling". Todo o enredo evolui de uma forma descritiva Bob Dylaniana e até Springsteeniana, mas sobretudo muito própria. "Ready to Start" entra em grande bateria e em breve se torna numa oposição da mentalidade dos subúrbios por arranjar um emprego de escritório a despeito de enveredar pelo campo artístico, cliché da sociedade conservadora. Tudo isto por entre um piano gingão e um sintetizador que no final se insurge em tom de emergência. "Modern Man" é a composição mais simples de The Suburbs, consistindo numa combinação de poucos tons de guitarra e marcação de bateria com um leve sintetizador, demonstrando o peso de ser um homem actual numa sociedade em que tal é exigido, quer a nível de emprego, quer da vivência em conjunto, quer como forma de auto-convencimento. É altura de uma grande viragem a nível instrumental e "Rococo" faz bem as honras: violinos algo macabros, guitarra com distorção, guitarra acústica, cravo e sintetizador ambiance, fazendo vir ao de cima todos os desejos negros e simultaneamente grandiosos que passam pelas crianças enquanto brincam e interagem, como se de saudosismo barroco se tratasse "They want to own you but they don't know what game they're playing". Violinos soam como sirenes e é em "Empty Room" que reconhecemos os Arcade Fire de Funeral, onde reina a amálgama sonora e catártica ribombante, com as vozes do casal misturadas numa canção em que os amores de juventude e a dúvida se afloram, havendo até espaço para versos em francês. "City With No Children" diz respeito a todos: quem não se viu crescer e ver mudar a sua cidade? Todos ficamos com a sensação que já não existe juventude numerosa em meios tão fechados, peso socioeconómico que só é agravado pela observação de casas e jardins abandonados onde antes se brincara ou se viam cuidados "I feel like I've been living in a city with no children in it,
a garden left for ruin by a millionaire inside of a private prison
". A linha de baixo simples e contagiante é a chave para a tonar num cómico-drama. Chega o primeiro duo meio-épico Half Light I/ Half Light II. Na primeira, a repetição de guitarra em tons mais graves e agudos conjugada com a voz de Régine e os violinos orquestrais tornam todo o cenário de fuga à noite em tempos de adolescência para namorar nas vizinhanças (onde cada casa é uma história que pode escondida de todos) algo nostálgico, resumindo-se apenas em "We run through the streets that we know so well/And the houses hide so much/We're in the half light/None of us can tell/They hide the ocean in a shell". A segunda face de Half Light é bem mais electrónica e deixa o sonho para trás para cair na realidade "(no celebration)": nos subúrbios é muito comum o êxodo para grandes cidades aquando do crescimento, preferencialmente para outra ponta do país. Assim, são postas em evidência as atribulações do afastamento de um meio onde tudo nasce como adquirido e o reencontro com este muito mais tarde, altura em que se tornou irreconhecível. A segunda metade de The Suburbs é mais reflexíva e acústica... "Suburban Wars" é para mim a melhor música desta colecção e traduz perfeitamente o modo de pensar e viver em bairros periféricos: o afastamento, as amizades quebradas pelo afastamento, a divisão em tribos urbanas pela música, as discussões, a tristeza e saudade do antigamente (mesmo que este fosse pior que o presente) e a revolta tão característica contra o sistema "Before your war against the suburbs began". É povoada de deliciosos dedilhados e coros, terminando numa emergente e épica bateria em que os versos "All my old friends, they don't know me now" nos avisam de que isto não é uma sugestão, é um facto. "Month of May" é a faixa mais rock crú do grupo de Montreal, riffs ásperos e batida punk sobre a chegada do Verão e início das festas de garagem, em que miúdos se vestem como jovens e jovens se comportam como miúdos.
A balada "Wasted Hours" lembra aqueles tempos mortos em que nada aparentava ser aproveitado fora do ritmo da cidade, observando-se apenas as mudanças físicas suburbanas, enquanto o envelhecimento toma conta dos corpos e o cansaço das mentes. "Deep Bluee é assombrada por um piano e continua a reflexão da antecessora, desta vez atentada na descoberta da música e da forma como esta pode vir a mudar cada um. "We Used to Wait" é muito provavelmente o primeiro single e faz frente a outros êxitos de estádio da banda, continuando a nostalgia da separação amorosa na mudança de cidade e do "escrever ou não escrever? manter contacto ou não?", reflectido em "We used to wait letters to arrive (sometimes they never came)" o que geralmente acontece. O segundo par é "Sprawl I/Sprawl II". A primeira tratando-se de uma clássica composição com violinos e retratando um episódio de regresso ao Sprawl (o típico subúrbio das grandes cidades americanas) na tentativa de relembrar os sítios da infância, tentativa que se torna falhada pela mudança e construção de infra-estruturas. Já a segunda é a música mais adorada/odiada do disco, já que é tida como "isto não soa a Arcade Fire". Talvez soe tanto como qualquer outra...o certo é que apesar de electrónica, é bela e detém uma das melhores letras do grupo cantada por Régine. Nunca se aperceberam que em cada cidade-dormitório surgem centros comerciais falidos à medida que o tempo passa e que se acumulam? "Living in the sprawl/Dead shopping malls rise like mountains beyond mountains/And there's no end in sight". Tal como foi dito anteriormente, esta viagem termina como começou, destacando as doces palavras "If I could have it back/All the time that we wasted, I'd only waste it again". Esta mensagem pode ser muito importante, cada um é aquilo que construiu ao longo da sua vida e do meio que o influenciou. Se as experiências fossem mudadas por arrependimento, nada seria o mesmo.

The Suburbs não é um disco que pede admiração pela multi-insrumentalidade. É algo que pede atenção para os seus conteúdos e que facilmente se torna na experiência de todos aqueles que cresceram num meio semelhante (ou num esclarecimento de tal caso isso não tenha sucedido). Pode aparentar ser muito simples a nível sonoro, mas a verdade é que se encontram alguns dos mais belos arranjos e experiências de Butler e companhia, nunca descurando a alegria, nostalgia e epopeia que tanto os caracterizam.